Excursão de escola pública é barrada em shopping de São Paulo e educadora diz que houve discriminação

Segundo uma das organizadoras do passeio, uma funcionária impediu inicialmente o ingresso dos alunos com a alegação que o local é “um espaço de elite”.


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Foto: Arquivo Pessoal

Segundo uma das organizadoras do passeio, uma funcionária impediu inicialmente o ingresso dos alunos com a alegação que o local é “um espaço de elite”. A entrada foi permitida após negociação.

Um grupo de crianças de escolas da zona rural de Guaratinguetá teve o acesso barrado a um shopping na Vila Olímpia, zona nobre da cidade de São Paulo. Os cerca de 120 alunos, com idades entre 6 e 10 anos, foram ao local para ver uma exposição em um espaço dentro do complexo de compras. Segundo uma das organizadoras do passeio, uma funcionária impediu inicialmente o ingresso dos alunos com a alegação que o local é “um espaço de elite”. A entrada foi permitida após negociação.

Os alunos, que ganharam a viagem após uma premiação por mérito, saíram de ônibus de quatro bairros de Guaratinguetá na última segunda-feira (18). Eles foram visitar a exposição “Mickey 90 anos”, no shopping JK Iguatemi. O passeio foi um presente às crianças pelo bom desempenho nas aulas.

Segundo a diretora de uma das escolas, Jozeli Gonçalves, o grupo já tinha os ingressos previamente para a exposição às 14h, mas decidiram chegar duas horas mais cedo para incluir no passeio um almoço em uma rede de fast food.

De acordo com Jozeli, ao chegarem ao local, enquanto uma fila era organizada pelas educadoras na porta do shopping, uma mulher, que segundo a educadora era funcionária do shopping, abordou as professoras e informou que o local não poderia acomodar aquela quantidade de alunos e que o espaço “é de elite”.

O empreendimento disse, em nota, que não compactua com a mulher e que ela é colaboradora da mostra. A Orientavida, responsável pela mostra, classificou o fato como isolado e pontual e informou que a funcionária foi desligada.

“Nós fomos com crianças que nunca tinham ido a um shopping, que só viam fast food pela televisão. Era para ser um dia especial, mas esbarramos no preconceito. A funcionária pediu que fôssemos a uma lanchonete na esquina do shopping e ainda justificou que poderíamos ter problemas com a segurança do espaço porque o shopping era considerado de elite”, contou a diretora.

A diretora Jozeli comanda a escola municipal Francisca de Almeida, no Bairro Pedrinhas. Os alunos da escola onde ela atua levaram cerca de cinco horas até São Paulo – a comunidade onde as crianças moram é distante da região urbana de Guaratinguetá.

Ela contou que a comunidade e os pais das crianças se mobilizaram para custear a alimentação do grupo de alunos e o dia em São Paulo. O deslocamento de ônibus para exposição foi custeado pela prefeitura. Já os ingressos haviam sido doados pela ONG Orientavida à administração e repassados às escolas.

“Nós ficamos cerca de vinte minutos tentando mediar a situação até que acionamos a Secretaria de Educação do município, que articulou com a organizadora da exposição a liberação da nossa entrada. Nisso, parte dos alunos já tinha deixado o local para comer fora do shopping mesmo. Começamos a notar que os alunos maiores tinham percebido que estavam sendo barrados e não queríamos isso”, disse.

Para ela, o grupo foi discriminado social e racialmente, já que parcela das crianças é negra.
Após a negociação, o acesso foi liberado e parte dos alunos da excursão comeu no shopping. O restante do grupo só foi ao local mais tarde próximo ao horário da exposição.
“São alunos de comunidades carentes, da zona rural e com poucas oportunidades. Essa já é a realidade deles. O que sentimos ali é que essa segregação que eles já enfrentam foi repetida. Mas nós entramos e insistimos porque somos agentes transformadores e queríamos mostrar que eles têm espaço. Vê-los encantados até com a escada rolante não teve preço”, contou Jozeli.

Fonte: G1

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