A importância do sigilo no âmbito profissional

Psicóloga Tamara Bischoff fala sobre a necessidade das pessoas respeitarem a privacidade alheia


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Foto: Fernanda Kochhann

Tem uma tema extremamente importante que eu acho que recebe pouca atenção, de um modo geral. Diz respeito a questões de privacidade no âmbito profissional. Não me refiro aqui ao sigilo profissional previsto em lei, aquele ligado a algumas áreas de atuação nas quais a confidencialidade é inerente ao trabalho, como é o caso da Medicina, da Psicologia, do Direito, entre outras. Refiro-me a uma questão ética, de respeito com o outro, e que deveria estar mais presente no cotidiano de todas as profissões nas quais se lida com pessoas ou com informações a respeito de pessoas. É como diz naquele conhecido ditado, “ética é tudo aquilo que você faz quando acha que ninguém está vendo”.

Tenho inúmeros exemplos para citar, dos mais corriqueiros aos mais complexos. Entre os frequentes, estão aqueles comentários mais inofensivos, do tipo em que você está numa loja e a vendedora conta quem esteve ali e o que comprou, quanto gastou. Talvez na tentativa de valorizar seu negócio ou de se aproximar de você, ela se utiliza de informações de outras pessoas. Também já me aconteceu de ir a uma clínica de saúde e me informarem que determinado familiar meu estivera lá no mesmo dia realizando determinado exame, tipo de informação que já enquadro numa categoria mais grave.

Mas a situação que motivou este comentário foi ainda séria. Na semana passada, estava em uma loja com minha irmã e a pessoa que nos atendia, querendo ser simpática e estabelecer uma proximidade conosco, falava sobre a profissão de seu irmão quando começou a relatar um caso que ele vinha atendendo, de uma adolescente, filha de fulano de tal, diagnosticada com tal transtorno, e detalhou aspectos do tratamento, progressos que vinham ocorrendo, enfim, toda uma situação que expunha a paciente e seus familiares porque o profissional se achou no direito de contar o caso para sua família e, a partir daí, a privacidade sai totalmente de controle.

No caso citado, é possível que a profissão até nem tenho uma regulamentação específica relativa ao sigilo, mas independentemente disso, eu deixo aqui minha sugestão: antes de comentar informações sobre outras pessoas, as quais você teve acesso única e exclusivamente por causa de seu trabalho, reflita se você gostaria de ter particularidades suas expostas assim, sem cuidado algum, e o que lhe motiva a falar sobre isso. Se é para mostrar que você é bom no que faz, busque maneiras respeitosas e legais de fazer isso. Se é por um problema de autoestima – aquela necessidade que algumas pessoas têm de afirmar sua importância contando segredos que lhes foram confidenciados -, um tratamento psíquico pode ser uma alternativa para entender e trabalhar essa questão.

O filósofo, escritor, palestrante Mario Sérgio Cortella escreveu que “ética é o conjunto de valores e princípios que nós usamos para decidir as três grandes questões da vida: Quero? Devo? Posso? Tem coisa que eu quero mas não devo, tem coisa que eu devo mas não posso, e tem coisa que eu posso mas não quero.” No fim das contas, é isso que pode diferenciar um profissional de outro.

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