“A língua é muito mais do que um conjunto de palavras. Expressa uma maneira particular de ver o mundo”

Professora de Letras e Literatura Ivete Kist lembra existirem três dias do ano dedicados à Língua Portuguesa: 5 de maio, 10 de junho e 5 de novembro; entenda


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Professora Ivete Kist realiza comentário no programa Acorda Rio Grande (Foto: Rodrigo Gallas)

A rotina dos 365 dias do ano é interrompida pelas datas especiais. Essas datas criam oportunidades para mostrar consideração e apreço. Pensemos no dia das mães, no Natal, etc.

Em relação às datas, nós poderíamos ficar focados na importância delas e realizar as homenagens apropriados. No entanto, como sabemos, a maioria acabou refém da máquina de consumo. Virou apenas ocasião para comprar presentes. Quase nem lembramos o significado da comemoração.

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Não estou puxando o assunto para desfiar ladainha contra o consumo. Afinal, consumir ou não é uma decisão pessoal, mesmo que pareça mais bonito terceirizar a responsabilidade e baixar a lenha no comércio. Estou falando deste tema, para destacar uma data que em geral fica encolhida debaixo da poeira, tão humildezinha que quase ninguém vê. Trata-se do dia da Língua Portuguesa.

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Nem parece, mas existem três dias do ano dedicados à Língua Portuguesa: 5 de maio, 10 de junho e 5 de novembro.

A data que se avizinha, 10 de junho, dia da morte de Camões, no Brasil vai ser ofuscada pelo dia dos namorados. Já em Portugal é um dos feriados mais importantes. Lá a data é festejada com pompa e circunstância. Mais do que nós, os portugueses sabem que Fernando Pessoa tinha razão ao declarar: “a língua portuguesa é a minha pátria”. Com isso queria fazer notar que a língua é muito mais do que um conjunto de palavras. A língua expressa uma maneira particular de ver o mundo. Todos os que falam mais de uma língua sabem do que estou falando.

Também queria aproveitar a oportunidade para puxar uma famosa declaração de Rui Barbosa, o intelectual que é homenageado em 5 de novembro – esse terceiro dia da Língua Portuguesa que existe a cada ano.

Rui Barbosa disse no início do século XX uma frase que não envelheceu nem foi para o porão das inutilidades. Ao contrário, a frase foi ficando cada vez mais importante. Faço questão de repeti-la aqui. Diz assim:

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto.”

Rui Barbosa tem sua obra organizada em 125 volumes. Ao lado de afirmações tão graves como essa que acabei de citar acima, é possível encontrar observações mais leves. Nem por isso menos verdadeiras.

Vê lá o que tu achas da seguinte advertência de Rui Barbosa:

“Não se deixem enganar pelos cabelos brancos. Os canalhas também envelhecem.”

Veja a participação no Acorda Rio Grande

Texto por Ivete Kist, professora de Letras e Literatura.

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