A vingança é um sentimento traiçoeiro, negativo e de efeitos destrutivos

O ser humano nasce biologicamente equipado para retaliar quando se ressente de alguma ofensa ou agressão.


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Foto: Dirce Becker Delwing

Estava na sala de espera de um espaço de saúde, esperando para ser atendida, quando uma senhora, lá pelas tantas, me contou do seu ex. Com uma fala mansa, não elevou o tom de voz nem mesmo quando disse que ficou sozinha com filhos pequenos e com pouco dinheiro. Só de ouvir, eu já estava incomodada com as sacanagens do tal homem. Claro, estava diante de apenas uma versão dos fatos. De qualquer forma, fiquei pensando que existem pessoas com um espírito elevado, que conseguem seguir adiante sem ficar ruminando o passado. Digo isso porque, de um modo geral, temos o desejo de “dar o troco” quando nos sentimos ofendidos, desrespeitados ou injustiçados.


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Quem confirma isso é o psicólogo americano Michael E. McCullough, autor de “Além da Vingança – A Evolução do Instinto do Perdão”. Ele diz que todo ser humano nasce biologicamente equipado para retaliar quando se ressente de alguma ofensa ou agressão. Você há de concordar que imaginar uma vingança bem requintada causa prazer e alívio. No entanto, não deveríamos alimentar esse sentimento, porque ele é perigoso e traiçoeiro. Freud diria que você até pode pensar, no entanto, não deve colocar seu pensamento em ato. Contudo, acredito que é muito difícil conseguir se libertar do desejo de vingança quando percebemos que o outro foi sacana conosco.

Ficar a serviço do desejo de vingança pode ser muito nocivo. O poeta e dramaturgo espanhol Calderón de La Barca, que viveu de 1600 a 1681, lembrava que, de qualquer forma, a vingança não apaga a ofensa e, ao colocá-la em prática, você pode diminuir o juízo, ou até mesmo perdê-lo. Talvez a senhora que encontrei no consultório está certa. Não perde tempo com sentimentos negativos, não culpa o outro, não se vale da justiça selvagem. Como me disse, cada pessoa, bem ou mal, constrói o seu destino. Para gente assim, ser feliz é a melhor forma de vingança. Como já dizia o filósofo francês Jean Paul Sartre (1905 a 1980): “Não importa o que fizeram a você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram a você”.

Uma obra literária que trata desse tema com ironia é de autoria da escritora Cláudia Tajes. No livro Por isso eu sou vingativa, a autora empresta palavras para oito vinganças. Todas muito criativas, como só uma mulher enfurecida sabe arquitetar, planejando nos mínimos detalhes uma forma de dar a volta por cima e se vingar de homens que a fizeram sofrer. A obra consegue arrancar risadas do leitor porque a escritora vinga a sua personagem com muita inteligência. Por outro lado, há um capítulo com reflexões profundas acerca deste tema.

Dirce Becker Delwing, psicóloga e psicanalista clínica 

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