Diferentes Somos Todos: projeto de fotógrafo busca mostrar o “retrato dos lajeadenses”

As 120 pessoas que foram fotografadas responderam perguntas com grupos criados para cada resposta. As imagens estão espalhadas em mais de 20 pontos da cidade


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Imagens e frases foram espalhadas em mais de 20 pontos da cidade (Foto: Gabriela Hautrive)

Quem anda pelas ruas de Lajeado deve ter percebido, durante os últimos dias, algumas imagens espalhadas em mais de 20 pontos da cidade com as frases: “Eu sou o retrato de Lajeado”, “Eu sou a incerteza sobre o futuro”, “Eu sou o retrato dos homens”, e assim por diante, com 17 outros dizeres. Conforme o autor da iniciativa, fotógrafo Caco Marin, trata-se de um projeto ambicioso, chamado de “Diferentes Somos Todos”, que buscou criar uma intervenção urbana que não fosse centralizada e sim exposta em bairros e muros de Lajeado, envolvendo muitas pessoas, não somente quem foi fotografado como também quem cedeu espaço para expor as fotos e aqueles que circulam pelo município e apreciam a arte.


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O projeto consiste em uma coletânea de imagens que foram captadas em formato de retratos em uma arte de 50 metros quadrados divididos em 400 cartazes tamanho A3, sendo que cada retrato ganhou um design para virar cartaz e ser pendurado em diversos lugares da Lajeado. O ato foi feito com pessoas que Marin encontrou pelas ruas da cidade. “Questionei se elas topariam ceder o retrato na tentativa de encontrar um retrato comum, parece um pouco estranho, mas a ideia é mais ou menos quando se usava retroprojetor, tinha aqueles slides, tu pega vários e sobrepõe eles, e quando faz isso com rostos, consegue chegar a várias imagens diferentes, com rostos e traços predominantes”, explica.

A técnica usada pelo fotógrafo não existia. Ele criou categorias com 20 perguntas disparadoras, e todas as pessoas que tiveram a mesma resposta foram classificadas em uma área, fazendo assim a sobreposição das fotos. “A ideia do projeto é essa, descobrir os retratos de Lajeado, com determinados pontos e aspectos que foram questionados durante a entrevista”, explica. Para realizar o trabalho, Marin abordou mais de 1 mil pessoas, sendo que 120 aceitaram participar da atividade. “A gente está vivendo um período de acessão, que é a pandemia, e esse projeto por si só é algo diferente. Então abordar as pessoas na rua causa estranhamento, e eu abordava elas com todo respeito e com uma pergunta direta e bastante específica: gostaria de participar do projeto?”, conta.

Autor do projeto, fotógrafo Caco Marin (Foto: Gabriela Hautrive)

Todos os participantes cederam o retrato através de um termo de uso de imagem, o que também se tornava um “obstáculo” na hora de dizer sim para o projeto. “Entendo que estamos aprendendo muito. Lajeado está fazendo um movimento super grande dentro da questão cultural, então acho importante criarmos os caminhos corretos de se fazer cultura”, pondera. Por ser algo novo e diferente, o fotógrafo conta que a cada 20 pessoas, uma dizia sim, e a partir disso resolveu mudar sua estratégia de abordagem. “Comecei a pedir ajuda dos amigos próximos e conhecidos para que eles indicassem pessoas que topassem a ceder imagens e algumas respostas para o projeto”, explica.

O propósito inicial era criar o retrato do cidadão lajeadense, mas Marin percebeu, no andamento do trabalho, que não é propriamente um retrato do lajeadense e sim das pessoas que aceitaram participar do projeto.

Retratos foram feitos em tamanho A3 para serem reproduzidos como cartazes (Foto: Caco Marin / Projeto Diferente Somos Todos)

Os cartazes estão todos em preto e branco e foi uma decisão técnica do profissional. “Preferi oferecer a análise da narrativa que foi criada para os traços, uso ou não de máscara e óculos, para o rosto que foi criado, e não necessariamente para a nossa diversidade”, explica. Entre os diferenciais do projeto, estão as variadas percepções que as pessoas podem ter ao visualizar as imagens e as frases espalhadas pela cidade.

Com isso, o fotógrafo conclui que o resultado é a prova de que a cultura respira e a arte vive. “É um prazer imenso, inenarrável poder levar uma intervenção urbana para tantos pontos dessa cidade que me acolhe tão bem”, destaca.

Todo o projeto foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc. Além das fotografias de Caco Marin, o design do trabalho tem autoria de Rodrigo Muller. Todas as imagens podem ser conferidas no site cacomarin.com/diferentessomostodos.

VÍDEO: Fotógrafo Caco Marin explica o projeto

Frases e categorias do projeto

1- Eu sou o retrato de Lajeado

2- Eu sou o retrato de quem não usa máscara

3- Eu sou o retrato de quem usa máscara

4- Eu sou o retrato dos homens

5- Eu sou o retrato das mulheres

6- Eu sou o retrato de quem já foi vacinado

7- Eu sou o retrato de quem não foi vacinado

8- Eu sou o retrato de quem foi diagnosticado com Covid-19

9- Eu sou o retrato de quem não foi diagnosticado com Covid-19

10- Eu sou o retrato de quem não perdeu alguém para a Covid-19

11- Eu sou o retrato de quem perdeu alguém para a Covid-19

12- Eu sou o retrato de quem não acredita na pandemia

13- Eu sou o retrato de quem acredita na pandemia

14- Eu sou o retrato de quem não passou necessidades durante a pandemia

15- Eu sou o retrato de quem não perdeu a esperança

16- Eu sou o retrato da incerteza sobre o futuro

17- Eu sou o retrato da empatia

18- Eu sou o retrato da raiva

19- Eu sou o retrato da tristeza

20- Eu sou o retrato de quem acredita que vai melhorar

Texto: Gabriela Hautrive
reportagem@independente.com.br

 

 

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