Axé, Tchê! Livro reúne poesias de três escritores

Jornalista, psicóloga e psicanalista clínica Dirce Becker Delwing aborda no quadro Páginas Cotidianas o lançamento da obra que reúne poesias de Ivan Dorea Cancio Soares, Nádja Freire Dorea Soares e Tânia Beatriz Acosta Gräff


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Foto: Divulgação

O lançamento da obra que reúne poesias de Ivan Dorea Cancio Soares, Nádja Freire Dorea Soares e Tânia Beatriz Acosta Gräff aconteceu nesta quinta-feira, na Casa de Cultura de Lajeado. O evento foi coordenado pela Academia Literária do Vale do Taquari (Alivat) e teve o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo de Lajeado (Secultur). A apresentação da obra é da professora Dra. Ivete Kist e o prefácio, que apresento a seguir, é de minha autoria. “Axé, Tchê” pode ser adquirido nas Livrarias Cometa e Wessel, em Lajeado.

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!
(Mario Quintana – “Poeminha do Contra”)

Conheço Tânia Beatriz Acosta Gräff há cerca de 25 anos. Nesse tempo todo, lia seu nome em publicações acadêmicas, em rótulos de produtos e em notícias da mídia. Certeira, detalhista e metódica, organiza tudo o que faz com a dosagem de quem prepara uma receita. Insiste nas quantidades até que sai a fórmula ideal. Ela sempre está em movimento. Tem tanta vivacidade em si que parece que sua alma chega antes do corpo e permanece com a gente quando está longe. É dentro desse pulsar da existência que ela escreve sobre a vida. A Tânia poeta deixa escapar as emoções sem qualquer medidor de controle, ainda que busque uma harmonia na apresentação dos versos. Sua escrita confessa a vida de uma mulher que construiu sua história com autenticidade. Sim, ela é original. Tem coragem de se mostrar quando está inquieta e pensativa diante da sua condição humana. Sua análise parte de uma perspectiva pessoal e se estende a questões sociais existenciais, que envolvem o dia a dia da mulher e sua importância em nossa sociedade. É desse lugar que ela conversa com a gente.

Outro traço que constitui a personalidade de Tânia é sua habilidade de agregar pessoas em seus grupos de convívio — não que ela invente motivos triviais para reunir amigos; é que, ao longo do ano, ela enxerga possibilidades de celebrar diversas datas do calendário. Cada pouco, a gente recebe um convite para estar junto. Por conta disso, laços de amizade se formam entre aqueles que integram sua lista de afetos mais próximos. Com a publicação deste livro não está sendo diferente. Em “Axé, tchê!”, a autora convidou dois amigos baianos para que se juntassem a ela. O título faz menção a essa parceria literária por meio das expressões mais populares dos seus estados de origem, Bahia e Rio Grande do Sul. A obra conta com a presença de Ivan Dorea Cancio Soares, filósofo, historiador e arqueólogo. Seus textos nos remetem a escavações psíquicas. São fragmentos, pedaços e inteiros que contam e que revelam — pouco, quase nada, ou tudo. Um exemplo é o poema “Procura”, escrito originalmente em julho de 1967, que se constitui de apenas seis palavras.

“Só queria saber onde está você..”

Está aí uma pergunta, um desejo, uma afirmação, ou uma resposta para as nuances afetivas que nos constituem enquanto sujeitos psíquicos. O desejo maior do ser humano é ser visto, reconhecido e nomeado pelo outro. Dentro desse emaranhado de fantasias e fantasmas estão nossos pais, nossos familiares, as pessoas do nosso convívio cotidiano e, especialmente, nossos amores mais pulsantes. A questão que Ivan apresenta se assemelha à enormidade reflexiva que está no “Poeminha do Contra”, de Mario Quintana, referido na abertura deste prefácio. Foi a sensação que tive.

“Axé, tchê!” não para por aí. Você também está diante da oportunidade de estar com Nádja Freire Dorea Soares, psicopedagoga escolar e clínica, arqueóloga e restauradora de peças arqueológicas. A escritora presenteia-nos com poemas que abordam a vida vivida, transmitindo reflexões profundas e cheias de sabedoria. São conversas que, em alguma medida, cada um de nós tem entre uma tarefa e outra. “Os mesmos pássaros cantam uma variedade de poemas comuns”, avisa Nádja no poema “Monotonia”. A composição nos convida a pensar que a vida é feita de repetições, apesar de estarmos, o tempo todo, na expectativa de que algo novo possa acontecer. Na mesmice da cena é que pode estar o recomeço. É dessa forma que a autora transforma impressões pessoais e alheias em poesia, com ingredientes de doçura, emotividade e provocação.

Recebi da Tânia a missão de assinar o prefácio para dialogar com você sobre o significado deste livro. Passei semanas lendo e relendo as poesias que cada um dos autores escreveu. Os mais distintos sentimentos me fizeram companhia nessa complexa empreitada. E, mesmo que desejasse nomeá-los, haveria uma infinidade de outras possibilidades de sentir as composições. A escrita poética é como o amor ingênuo e desinteressado, não é possível definir em um sentido único. Como cada pessoa lê a partir das suas singularidades, aqui há tantos poemas quantos leitores visitarem a obra. Da publicação para a eternidade.

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