Brasileiros em Portugal

A preferência pelo país se dá pelo idioma e costumes parecidos com os do Brasil


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Ivete Kist fala sobre a ida de brasileiros para Portugal (Foto: Fernanda Kochhann)

A revista Veja desta semana traz uma extensa reportagem sobre brasileiros vivendo em Portugal. Estima que sejam em torno de 400 mil os nossos conterrâneos que se transferiram pra lá – mais ou menos a metade de forma legal. O número é alto, considerando que a população portuguesa está próxima dos onze milhões de habitantes.

O número também impressiona por marcar a virada do fluxo migratório. Desde o início da colonização e ao longo dos séculos, eram os portugueses que se mudavam para este lado do Atlântico, seja em busca de oportunidades, seja para fugir de situações políticas adversas.

A coisa mudou, como se vê. Hoje a presença dos brasileiros é tão forte em Portugal que já se observam certas mudanças no comportamento lusitano. É o caso de gírias e de formas linguísticas antes raras por lá, que agora se popularizam, notadamente entre os mais jovens. A excelente culinária portuguesa, por sua vez, igualmente está incorporando sabores brasileiros, como o pão de queijo, o brigadeiro e o açaí.

Bom, é fato que o mar não está pra peixe no Brasil e que muitos dos nossos jovens estão se transferindo para outros países. A preferência por Portugal aparece como opção obvia, por conta da língua e dos costumes muito parecidos.

O que pensar desta diáspora?

Em primeiro lugar, cabe assinalar que essa não é uma realidade positiva para o Brasil. Todos os países fazem questão de contar com os seus jovens para ajudar a construir o futuro. Pior ainda saber que aqueles que vão embora são, em geral, os mais ousados e mais criativos. Representam uma sangria lamentável.

Pode-se consolar um pouco, de outra parte, pensar que aqueles que saem têm chance de representar uma influência positiva para os que permanecem. Frequentemente, mandam dinheiro para casa e divulgam aspectos bons da realidade que encontram. Fazem acreditar que segurança para andar na rua, por exemplo, igualdade e respeito pelos outros são atitudes possíveis.

Se olharmos do ponto de vista daqueles que deixam sua pátria, temos de convir que não fazem uma opção fácil. Viver longe das raízes é uma atitude que cobra seu preço. A dor do exílio existe e não só na canção de Gonçalves Dias (“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá/ as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá.) Uma divisão se estabelece dentro da pessoa. Ela pode gostar muito da nova pátria, mas sente imensa falta das coisas da sua infância. Sabe que jamais pertencerá inteiramente ao novo espaço e que nada será como antes, se voltar ao local de origem.

Quem vai embora do seu lugar entende na prática o sentido da palavra saudade. E entende bem o verso de Fernando Pessoa feito para explicar o sentimento dos marinheiros que se aventuravam pelos mares nunca dantes navegados, durante a expansão do império português:

“Quem quer passar além do Bojador, tem de passar além da dor”.


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