Cachaça, riqueza e escravidão

A história da cachaça começa quando os portugueses trouxeram ao Brasil a cana-de-açúcar e as técnicas de destilação


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Foto: Reprodução

Podemos dizer que a história da cachaça começa quando os portugueses trouxeram ao Brasil a cana-de-açúcar e as técnicas de destilação. Em 1502, as primeiras mudas de cana chegaram ao Brasil, trazidas por Gonçalo Coelho. Em Pernambuco, entre 1516 e 1526, o primeiro engenho de açúcar foi instalado na feitoria de Itamaracá.

Nas primeiras décadas de presença portuguesa, o número de engenhos no Brasil se multiplicou rapidamente. Em 1585 existiam 192 engenheiros de açúcar no país; alguns anos depois, em 1629, já eram 349 em atividade.

Medico e gourmet Marcos Frank fala sobre culinária nas sextas-feira no quadro “Direto Ao Ponto” (Foto: Divulgação)

Mesmo diante da imprecisão de data da primeira destilação no Brasil, é possível afirmar que a cachaça foi o primeiro destilado da América a ser feito em larga escala e ter relevância econômica. A motivação para o sucesso dessa indústria estava baseada na perspectiva colonialista e na economia atrelada ao trabalho escravo.

Com o aumento da demanda de mão de obra para as plantacoes de cana-de- açúcar nas colônias portuguesas, o comércio de escravos tornou-se para os escravagistas europeus uma importante oportunidade de geração de renda. No fim dos séculos XVI e XVII, num período de escassez de moedas, o comércio de escravos na costa africana era realizado pelo escambo por açúcar, tabaco, tecido, vinho e sobretudo destilados como brandy, rum e cachaça.

Diferentemente da cerveja e do vinho, que estragavam durante as longas viagens marítimas, o alto teor alcoólico dos destilados preservava a bebida e possibilitava o transporte de mais álcool, ocupando, dessa forma, menos espaço nas embarcações. Entre 1710 e 1830, estima-se que cerca de 310 mil litros de cachaça foram enviados anualmente para Luanda e que 25% desse volume era trocados por escravos.

Foto: Ilustrativa

No fim do século XVII, a hegemonia do açúcar brasileiro foi quebrada pela produção na América Central com um produto mais barato e de melhor qualidade, controlado por holandeses expulsos do litoral pernambucano. Por lá, os holandeses levaram as técnicas de destilação e contribuíram para o surgimento da indústria da aguardente de cana caribenha – que evoluiu para o que chamamos hoje de rum.

Durante o século XVIII a economia do açúcar entra em decadência e passa então a ser substituída pela extração de ouro em Minas Gerais. No início da migração para Minas, as cachaças brancas (puras) eram colocadas em barris de madeira para serem transportadas até Minas Gerais. No tempo da viagem, a cachaça, pelo contato com a madeira, acabava amarelando e tomando aromas e sabores próprios. Há quem diga que daí que surgiu o hábito de envelhecer e armazenar cachaças em barris de madeira.

A partir de 1850, com o declínio do trabalho escravo e a intensificação econômica do café, um novo setor social surge no Brasil, os Barões do Café. Com ideais elitistas, fugindo dos hábitos rurais e com uma identificação maior com os produtos e hábitos europeus, a nova elite brasileira rejeitava os produtos nacionais, como a cachaça, tida como coisa sem valor, destinada a pessoas pobres, incultas e, geralmente, negras.

Contra esse posicionamento discriminatório, surgem intelectuais, artistas e estudiosos com o compromisso de resgatar a brasilidade criticando com ironia e inteligência a incorporação da cultura e do costume estrangeiro. Em 1922, em São Paulo, é realizada a Semana de Arte Moderna, onde Mário de Andrade, um dos seus maiores expoentes, dedica um estudo chamado Os Eufemismos da Cachaça.

Nas últimas décadas, importantes acontecimentos têm contribuído para a valorização da cachaça e seu reconhecimento como patrimônio nacional. Em 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso legitima a cachaça como produto tipicamente brasileiro, estabelecendo critérios de fabricação e comercialização.

Massa de pastel com cachaça

Ingredientes para a massa

  • 3 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 2 colheres (sopa) de azeite
  • 1 copo (tipo americano) de água morna (¾ xícara de chá)
  • 
2 colheres (chá) de sal
  • 2 colheres (sopa) de cachaça

Modo de preparo



Numa tigela coloque 3 xícaras (chá) de farinha de trigo, 2 colheres (sopa) de azeite, 1 copo (tipo americano) de água morna, 2 colheres (chá) de sal, 2 colheres (sopa) de cachaça e sove bem até formar uma massa homogênea.

Passe a massa no cilindro (rolo) até ficar bem fina
Com uma faca corte retângulos ou discos, coloque o recheio no meio e dobre a massa formando o pastel.

Com um garfo, aperte nas bordas para fechar bem.
Frite os pastéis em óleo quente até dourar. Retire e escorra em papel absorvente e sirva em seguida.

Texto por Marcos Frank, médico e gourmet

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