Ao receber uma ofensa, procure analisar-se antes de tomá-la para si

Colocar dúvida onde havia uma certeza pode ser transformador


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Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga (Foto: Rodrigo Gallas)

Uma das coisas que mais afeta as pessoas, seja na vida pessoal ou no âmbito profissional, é a dificuldade de lidar com críticas, ofensas, comentários negativos. E pra falar disso, trago aqui um conto, que diz assim:

Perto de Tóquio, vivia um grande samurai, já idoso, que se dedicava a ensinar o zen aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda que ele ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante.

O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo, e aumentar sua fama. Todos os estudantes se manifestaram contra a ideia, mas o velho aceitou o desafio.

Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos, ofendendo inclusive seus familiares. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.

Desapontados pelo fato de o mestre aceitar tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram:

– “Como o senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se covarde diante de todos nós?”
– Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente? – perguntou o Samurai.
– A quem tentou entregá-lo – respondeu um dos discípulos.
– O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos – disse o mestre e continuou – “quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.”

Não temos a sabedoria do samurai, mas podemos fazer um movimento diferente da próxima vez que nos sentirmos ofendidos. Quando isso acontecer, procure analisar o que você sentiu, por que se afetou e o que aquela pessoa da qual partiu o comentário negativo representa para você. Apenas isso não vai operar um milagre e fazer com que você não se ofenda mais, mas se você conseguir, antes de aceitar o presente, ou seja, antes de tomar para você um insulto, provocar um estranhamento e colocar uma dúvida ali onde havia uma certeza, só isso já representará um movimento interessante.

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