Como você lida com quem é mestre na arte de enrolar?

Os enroladores amorosos, os enroladores de dívidas financeiras, os enroladores no trabalho...


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Foto: Ilustrativa

Quase sempre escrevo, na noite anterior, os textos que apresento aqui. É a última coisa que faço no dia. Um costume que tenho desde o começo da minha participação no ar, em 2001. Parece que se defino o assunto nas últimas 24 horas, estarei com os ouvintes de forma mais espontânea. Tenho algumas crônicas prontas, que uso em caso de emergência, mas é muito raro isso acontecer. Acredito que funciona de forma semelhante para a maioria dos cronistas. Quem escreve tem prazer, na revelação em tempo real, do conteúdo que anda visitando sua cabeça. E quando, por alguma razão, você não terá tempo para produzir uma escrita mais elaborada, precisa ter destreza retórica para, ao menos, fazer o básico.

Situação de tal ordem estava prevista para acontecer ontem. Um convite para um jantar avisava que eu chegaria tarde em casa e, a essa altura, ainda teria que fazer o texto. Imaginando o adiantado da hora, pensei que o jeito seria dar uma enrolada. Acontece que a preocupação ficou na minha cabeça. Nem era tanto com o fato de ter que encontrar um tema para escrever algo. O que ficou com ponto de reflexão, durante o evento, foi significado dessa expressão “dar uma enrolada” e no quanto cada um de nós enrola e é enrolado durante o dia.

Enrolar seria dar a volta, esconder o recheio, não contar logo a verdade. Dar uma desculpa. E, assim como na comida existe enroladinho, o rocambole e o canelone, no comportamento humano também há diferentes tipos de enroladores. Há as enrolações cotidianas:

— Hey, tá chegando?

A pessoa responde que está no caminho, mas nem saiu do seu destino de origem.

O cliente liga para a empresa e pergunta:

— Minha encomenda está pronta?

Do outro lado, a resposta soa como um pedido de compaixão.

— Estamos atrasados por falta de matéria-prima.

Esses são alguns exemplos rotineiros que usamos para ganhar tempo, para dar andamento, ou agilizar aquilo que temos por fazer. Em menor ou maior grau, todos nós fazemos isso nas nossas demandas cotidianas. Nem sempre isso gera grandes desgastes ou prejuízos nos resultados. Contudo, é interessante pensar no funcionamento de quem, repetidas vezes, age dessa forma, nas mais diversas áreas da vida. Os enroladores amorosos, os enroladores de dívidas financeiras, os enroladores no trabalho. Aliás, li uma matéria que dizia que, no ambiente de trabalho, é fundamental que não se faça vista grossa para profissionais enroladores, isso porque esse jeito de agir contagia, gerando prejuízos para toda a equipe.

Por Dirce Becker Delwing, jornalista, psicóloga e psicanalista clínica

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