Da Etiópia para o Brasil: a saga do café

Médico e gourmet Marcos Frank aborda a história do café e apresenta uma deliciosa receita de tapioca de Café com Doce de Leite e Chocolate


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Foto: Ilustrativa / Divulgação

Segundo uma lenda, foi um pastor etíope, denominado Kaldi, quem percebeu que havia algo diferente nas plantas da região. Ele havia alimentado suas cabras com arbustos e folhagens que tinham um fruto amarelo-avermelhado e notou que os animais ficaram mais animados e com energia, a medida em que mastigavam os frutos.

Embora a planta tenha origem africana, foi no Iêmen, região oeste da Arábia, que ela começou a ser cultivada. A história do café, aliás, começa pela criação do nome, que tem origem árabe. Lá a planta era conhecida como Kaweh e a bebida foi denominada como Kahwah ou Cahue, que significa Força.


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Na época, a bebida era consumida principalmente por monges em rituais religiosos pois, os auxiliavam durante as noites de reza e vigília noturna.

Afinal, era um produto que estava de acordo com os princípios do Alcorão, que condenava o consumo de bebidas alcoólicas.

Antes de chegar por aqui, o café tinha sua produção e comercialização controlada pelos árabes, que dominavam o mercado.

Foram os holandeses, os responsáveis por espalhar o café pelo novo mundo já que no séc. XVI, eles tinham o controle do comércio europeu e os melhores navios.

Tudo começou por volta de 1616, quando um botânico, em Amsterdã, iniciou a produção de mudas de café em pequenas estufas. Em seguida, sabendo da viabilidade comercial, e entendendo as especificações para o cultivo da planta,os holandeses introduziram as plantações do ouro negro nas colônias localizadas nas Índias Orientais.

Medico e gourmet Marcos Frank fala sobre culinária nas sextas-feira no quadro “Direto Ao Ponto” (Foto: Divulgação)

O café chegou ao norte do Brasil, mais precisamente em Belém, no ano de 1727, trazido da Guiana Francesa pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta a pedido do governador do Maranhão e Grão Pará, enviado às Guianas com essa missão, devido ao seu grande valor comercial na época.

O Sargento aproximou-se da esposa do governador da capital da Guiana Francesa, conseguindo conquistar sua confiança, ganhando e trazendo na bagagem, uma pequena muda de café Arábica.

Em Belém, a cultura não foi muito difundida, sendo levada nos anos seguintes para o Maranhão e chegando à Bahia em 1770. No ano de 1774 o desembargador João Alberto Castelo Branco trouxe do Maranhão para o Rio de Janeiro algumas sementes que foram semeadas na chácara do Convento dos Frades Barbadinos, que a partir de então, espalhou-se pela Serra do Mar, atingindo o Vale do Paraíba por volta de 1820, posteriormente Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná.

Devido ao clima do nosso país, o cultivo de café se espalhou rapidamente, com produção inicialmente voltada para o mercado doméstico. O café, em sua trajetória, passou pelo Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais.

A cultura se estabeleceu inicialmente no Vale do Rio Paraíba, iniciando em 1825 um novo ciclo econômico no país e no final do século 18, com a crise da produção cafeeira do Haiti (devido à longa guerra de independência que o país manteve contra a França), o Brasil aumentou significativamente a sua produção e passou a exportar o produto com maior regularidade.

Por quase um século, o café foi a grande riqueza brasileira, e as divisas geradas pela economia cafeeira aceleraram o desenvolvimento do país e o inseriram nas relações internacionais de comércio.

A cultura do café ocupou vales e montanhas, possibilitando o surgimento de cidades e dinamização de importantes centros urbanos por todo o interior do Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais e norte do Paraná. Ferrovias foram construídas para permitir o escoamento da produção, substituindo o transporte animal e impulsionando o comércio inter-regional de outras importantes mercadorias.

Com o café, houve o aumento da imigração, consolidou a expansão da classe média, a diversificação de investimentos e até mesmo intensificou movimentos culturais. A partir de então o café e o povo brasileiro se tornam inseparáveis!

No entanto, não existiria tanta história do café, se não existissem as cafeterias. Assim, a Turquia marca grande importância nessa trajetória. Pode-se dizer que o país foi responsável pela difusão da bebida no mundo, uma vez que criou em 1475 a primeira cafeteria: Kiva Han.

A bebida chegou em 1615, em Veneza, por Botteghe del Caffè, um dos pontos responsáveis pela propagação das técnicas de torra e moagem do café. Tratada como especiaria e artigo de luxo, a semente negra teve muitos entraves até a sua popularização no lado europeu.

Por volta de 1820 começam a aparecer no Rio de Janeiro as primeiras cafeterias propriamente ditas, como o Café do Estevam e o Braguinha, cujo nome oficial era “A fama do café com leite”.

Localizadas em pontos nobres da cidade, as cafeterias eram frequentadas, diariamente, por médicos, advogados, homens de letras e de teatro.

Em São Paulo, apareceram mais tarde, na década de 1850, com a considerada primeira cafeteria, o Café da Maria Punga, que ficava na casa de sua proprietária, Maria Emília Vieira, era um estabelecimento simples, com poucas xícaras e mesas, frequentado, principalmente, por estudantes da Faculdade de Direito, que ficava à sua frente.
Tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, as cafeterias e confeitarias se tornaram o centro social da cidade, frequentadas por artistas, escritores, políticos, jornalistas e estudantes, para boas conversas, negócios, debates e até de movimentos políticos, como a propaganda republicana.

Em 1901, Luigi Bezzera (Milão) revolucionou a forma como a bebida seria produzida. Foi ele o responsável pela invenção que, além de agilizar o preparo do café, introduzia o líquido direto em uma xícara. Bezzera aperfeiçoou a máquina criada por Moriondo, introduziu um porta-filtro, compartimentos para os grãos e outras inovações. Notadamente, a máquina rudimentar do cientista italiano era capaz de produzir em segundos uma xícara de café.

Atualmente o Brasil é responsável por cerca de 32% do volume exportado no mundo, além de ser o segundo mercado consumidor da bebida.

Tapioca de Café com Doce de Leite e Chocolate

Rendimento: 8 porções

Ingredientes:
Para a massa
500g de polvilho doce
350ml aproximadamente de café de coador (resfriado)
1 pitada de sal

Recheio
500g de doce de leite
300g de chocolate amargo (60% de cacau ou mais)

Finalização
8 bolas sorvete de canela ( ou creme)
Calda de chocolate
Raspas de chocolate

Modo de Preparo
Para a massa
Hidrate a massa com o café e uma pitada de sal. É importante saber que a quantidade de líquido pode variar de acordo com o polvilho.

Depois disso, peneire a massa e espalhe-a na tapioqueira e espere até que fique firme.

Recheio
Enquanto a tapioca está no fogo médio, espalhe o doce de leite e o chocolate ralado a gosto. Espere alguns instantes para o recheio esquentar e feche a tapioca.

Finalização
Sirva com o sorvete de canela ou creme e decore com a calda e as raspas de chocolate.

Dica:
Se a massa ficar borrachuda significa que está muito úmida, então acrescente um pouco de polvilho. Se estiver quebradiça precisa de um pouco mais de liquido, então adicione um pouco mais de café.

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