Dentro da cabine, com água e gás congelados: caminhoneiro de Roca Sales relata rotina em meio à nevasca no Chile

Kassiano Titon está na região da Cordilheira dos Andes abrigado dentro do caminhão, desde o fim de semana, por conta da forte nevasca que impossibilita o trânsito nas vias entre o Chile e a Argentina


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Foto: Arquivo pessoal

Caminhões e ônibus estão parados na região da Cordilheira dos Andes, no Chile, há três dias, por conta de uma forte nevasca que atinge a região. Entre eles, está o motorista de caminhão Kassiano Titon (41), de Roca Sales, que está na profissão há 21 anos e nunca tinha visto uma nevasca tão forte. Abrigado dentro do veículo desde o fim de semana, o gaúcho está em Punta das Vacas, região que fica a 1.100 metros de altitude, entre a Aduana Argentina e o Paso Internacional Los Libertadores. Na mesma região, em um caminhão ao lado de Titon, está o motorista Gabriel Schuck (30), de Muçum.

Logo que percebeu a neve, ele encostou o caminhão e não seguiu a viagem, por precaução, por isso não precisou ser resgatado. “Eu estou em um lugar que desde sábado não neva mais. A pista está normal, sem gelo, mas ao redor ainda tem neve acumulada. Já na montanha, no Passo Libertador que tem 3200 metros de altitude, ainda está nevando um pouco, e a 20 quilômetros daqui está tudo parado, por isso nós não podemos seguir viagem”, explica Titon. É neste local alto da montanha que um grupo de turista do Vale do Taquari ficou abrigado desde sábado.

Foto: Arquivo pessoal

O motorista conta que a nevasca pegou todos de surpresa e por isso muitas pessoas que estavam na montanha, mais acima de onde ele está, ficaram presas. “Tinham muitos turistas no Passo Libertador, eles pararam para fotografar e ficaram trancados lá, pois os veículos não podiam mais andar. Além disso, um caminhão escorregou e ficou atravessado na via, impedindo o trânsito. Isso complicou para quem estava no Passo Libertador.”

No caminhão Titon tem cozinha e alimentos para passar a semana abrigado no veículo, além de bastante cobertores e roupas. “Sempre tenho alimentos enlatados, então estou tranquilo. Tem alguns imprevistos como hoje de manhã que o gás congelou, a torneira congelou e não conseguia usar a água para escovar os dentes. Queria fazer um chimarrão e não consegui por esses motivos também”, relata. Além disso, alguns alimentos estão sendo comercializados na região para ajudar quem está paralisado. “Tem pessoas que passam vendendo cebolas, tomates, limão, lanches e outros alimentos. Eles trazem o que o pessoal precisa e pede. É mais caro, mas ajuda.”

Com experiência nas viagens para o Chile, ele lembra que em 2009 quando trabalhava com ônibus de turismo vivenciou uma nevasca, mas que não era tão forte quanto desta vez. “Aqui onde estou tem mais de 300 caminhões parados, de todos os lugares, tem mais brasileiros, tem uruguaios, argentinos, tem pessoas de todos os lugares”, comenta e explica que mesmo com sol na região ao redor da pista ainda tem neve acumulada.

Texto: Eduarda Wenzel
producao@independente.com.br

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