Assim que reconheceu o meu sotaque, foi se apresentando. Disse que conhecia o Rio Grande do Sul, que jogou basquete no clube Sogipa e que viajou pelo estado na época em que era atleta. Devo ter feito fisionomia de quem não situa a pessoa, até que ele passou a falar do seu pai. Dessa vez, fiz que sim com a cabeça. Rodrigo Elías Figueroa, filho do Figueiroa que jogou no Inter, na década de 1970.
A partir desse momento, todas as suas falas referiam o pai. Ele tinha a biografia na ponta da língua. Na infância, o pai teve uma difteria que lhe causou problemas de coração e mais tarde asma. Aos 11, teve poliomielite, ficou acamado por quase um ano e precisou reaprender a andar. O filho não economizou nos detalhes e, por fim, fez questão de mencionar que Figueiroa não fora apenas um destaque no Inter. Para os chilenos, é reconhecido como uma das maiores celebridades do futebol.
Dá para pensar que é um desafio e tanto ser filho de uma pessoa com um nome socialmente valorizado e muito querido. Construir seu próprio caminho, provar a competência por si mesmo. Contudo, a luta é muito maior para aquele que tem pais com nome não muito bem visto na praça.
Rodrigo Elías Figueroa, o filho do jogador de futebol, trabalha com vinhos. Um negócio que a família mantém há décadas, próximo à cidade de Valparaiso, no Chile. Suponho que conta a história do pai sempre quando reconhece um colorado na freguesia. O nosso nome e nossa dignidade são mesmo o maior legado que podemos deixar.
Texto por Dirce Becker Delwing, jornalista, psicóloga e psicanalista clínica