“Ela jamais teve intenção de prejudicar a própria filha”, diz advogado sobre mãe de menina morta em Lajeado

Ágatha Rodrigues dos Santos, de 5 anos, foi vítima de estupro e homicídio. Autor do crime está preso e mãe sofrendo com comentários maldosos na internet, segundo advogado


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Advogado responsável pelo caso, Bruno Zanatta Salvatori (Foto: Gabriela Hautrive)

A mãe da menina Ágatha Rodrigues dos Santos, de 5 anos, que foi vítima de um crime com estupro seguido de morte, além da dor por ter perdido a filha, está sofrendo críticas com comentários na internet a respeito do caso. Ao ser procurada pela reportagem, ela não quis se pronunciar e pediu para que falasse com seu advogado, que responde pelo caso.

O profissional, Bruno Zanatta Salvatori, ao ser questionado sobre a possibilidade da mãe responder judicialmente pelo crime, disse acreditar que não há como ela ser responsabilizada. “A Taís não teve participação alguma, ela jamais teve intenção de prejudicar a própria filha, e eu sinceramente, do fundo do meu coração, acredito também que ela não foi descuidada, porque não era uma pessoa estranha, que aparentemente era violenta, era uma pessoa do convívio dela”, explica.


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Foto: Gabriela Hautrive

Segundo Salvatori, a mãe está bastante sensibilizada, pois conversa todos os dias com ela e pede para que as pessoas tenham empatia e compaixão neste momento. O profissional foi procurado na última segunda-feira (6) a noite. “A princípio nós faríamos nosso descanso, já era 21h, mas em virtude da complexidade e da urgência do caso, eu disse para ela vir imediatamente conversar comigo”, relata. A mãe chegou até o advogado totalmente desolada, cansada, e relatando que não dormia desde o acontecido, além de estar magoada por conta de comentários maldosos feitos na internet. “Isso naquele momento já me preocupou bastante. Nós estamos lidando com um caso que sensibilizou todas as pessoas, inclusive quem trabalha no polo da acusação: a polícia, e tenho certeza que o Ministério Público, o Poder Judiciário e nós, precisamos ter a sensibilidade de responsabilizar o investigado, o réu do acontecido”, pondera.

Conforme o advogado, o autor do crime era amigo do ex-namorado da mãe da menina, ou seja, uma pessoa do convívio dela. “Já tinha feito jantas na casa dela, uma pessoa que ela já considerava amigo, que já tinha ficado perto da filha dela e de outras crianças”, relata. O delegado adjunto da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Lajeado, Humberto Messa Röehrig, em entrevista a Rádio Independente, relatou que o suspeito conhecia a mãe há apenas três meses. Ainda segundo Salvatori, o acusado não demonstrava nenhum indício de ser uma pessoa agressiva. “Pessoas que conviviam com ele há anos, que já trabalharam com ele, até pessoas da própria família dele, relataram que ele não aparentava ser a pessoa que faria esse ato”, destaca.

O fato de ninguém esperar isso do acusado, é o que mais apavora, segundo o profissional. “Alguém que não demonstrava ser agressivo e pudesse fazer o que fez, como confiar em outras pessoas? É isso que me deixa com medo também”. O advogado diz que ele era vendedor, uma pessoa conhecida, o que acende o alerta de que, alguém que não aparenta ser determinada coisa, pode ser sim uma pessoa má. “A Taís não conseguiria perceber, ninguém conseguiu perceber isso nele em todos esses anos, quem dirá uma menina como a Taís, que já era amiga dele, perceber que poderia fazer algum mal, porque com certeza, se ela tivesse visto qualquer indício, ela não teria deixado a filha dela sair”

Outro ponto que Salvatori destaca, é que a mãe da menina não é usuária de drogas e nunca viu pessoas do convívio dela, nem o responsável pelo crime usar esse tipo de substâncias. “As pessoas precisam cuidar a forma como elas estão interpretando esse caso por não conhecerem a Taís e a realidade dela. E digo mais, ela mora em uma região considerada, entre aspas, pobre de Lajeado, a gente ter cuidado também para não ser preconceituoso”, ressalta. O advogado reforça que se trata de uma mãe, que perdeu uma filha de forma brutal, e que as pessoas precisam se colocar no lugar dela. “O que a Taís precisa hoje é de acolhimento, de diálogo, é de ajuda, não de ataques”, finaliza.

Relembre o caso

A menina Ágatha Rodrigues dos Santos, de 5 anos, morreu após ter sido encontrada inconsciente na tarde de sábado (4) às margens do Rio Taquari, em Lajeado. Pouco depois das 14h30 o Corpo de Bombeiros de Lajeado foi acionado pela Brigada Militar (BM) para auxiliar nas buscas a uma criança que estava desaparecida. A menina foi vista com o acusado pelo crime, um homem de 35 anos, próximo das margens do rio.

Após período de buscas, o policiamento encontrou a vítima, na água, nua, em parada cardiorrespiratória. A criança foi imediatamente encaminhada para atendimento no Hospital Bruno Born, onde, após 30 minutos de procedimentos, não resistiu e morreu. O homem foi localizado pela Brigada e encaminhado à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Ele foi enquadrado por estupro de vulnerável, seguido de morte e preso em flagrante, sendo que foi transferido do Presídio Estadual de Lajeado para outra casa prisional nesta quinta-feira (9).

Texto: Gabriela Hautrive
reportagem@independente.com.br

 

1 comentário

  1. Muito bem colocado, a falta de empatia das pessoas, inclusive de mulheres, de mães que acusam outra mãe sem nenhum escrúpulo, e esquecem que o assassino foi um homem.
    Machismo de mulheres contra mulheres.

    Que Deus conforte esta Mãe, pois neste momento esta sofrendo de fato, com a morte da filha assassinada brutalmente, e com comentários maldosos.

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