Estudo de validação do Testa Lajeado revela baixa sensibilidade dos testes rápidos para infecções leves

Pesquisa analisou 142 pessoas que contraíram o vírus entre os meses de março e junho.


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Teste rápido da marca Wondfo foi utilizado na pesquisa (Foto: Divulgação)

A Universidade do Vale do Taquari (Univates), com apoio da Prefeitura de Lajeado, realizou entre os meses de maio e junho duas fases de testagem da Covid-19 por amostragem na população do município. A iniciativa buscou, por meio de amostragem probabilística, analisar a prevalência do coronavírus no município do Vale do Taquari.

Para a realização do Testa Lajeado, a equipe, que teve como coordenadora administrativa a professora Simone Stülp, como coordenador científico o professor Rafael Picon e pesquisadora responsável a professora Ioná Carreno, estabeleceu três objetivos até a conclusão da pesquisa: estimar a prevalência de coronavírus na população de Lajeado, avaliar a prevalência de Covid nos contactantes domiciliares de pessoas com a doença e a validação dos testes rápidos utilizados na pesquisa.

O processo de validação

Para realizar a validação dos testes rápidos, os profissionais verificaram, junto da Vigilância Epidemiológica de Lajeado, a lista de adultos com RT-PCR positivo para Covid-19 desde o início da pandemia até o mês de junho. Após, a equipe contatou essas pessoas para voluntariamente realizar o Teste Rápido (TR), da fabricante Wondfo, o mesmo utilizado no Testa Lajeado, que detecta a presença de anticorpos contra o vírus no organismo.

Ao todo, 142 adultos participaram da testagem, sendo de 66 dias a média de tempo entre a realização do TR e o diagnóstico por RT-PCR, com desvio padrão de 17 dias.

O estudo identificou que a sensibilidade geral do TR é de 59,9%. Para participantes que tiveram infecção leve, ou seja, que não precisaram de internação hospitalar, a sensibilidade foi de apenas 54,4%. Já entre indivíduos com histórico de internação pela Covid-19, a sensibilidade do TR foi de 82,1%.

Por fim, a equipe ainda analisou a sensibilidade do teste em função do tempo desde o diagnóstico por RT-PCR. Entre indivíduos que foram internados, a proporção de pessoas com anticorpos detectáveis pelo TR Wondfo permanece constante mesmo após 90 a 120 dias do diagnóstico por RT-PCR. Já entre pessoas que tiveram infecções leves, com o tempo decaiu a proporção de indivíduos com anticorpos detectáveis pelo TR, chegando a apenas 37,5% no período de 90 a 120 dias após o diagnóstico.

De acordo com o investigador principal, professor Rafael Picon, o resultado apresentado demonstra a não eficácia do teste rápido da marca Wondfo em testagens populacionais. “Por meio de nossa análise, detectamos que o teste rápido da Wondfo não é instrumento apropriado para uso em estudos de base populacional, em que se presume elevada proporção de infecções leves em relação às graves. Em razão da acentuada e rápida perda de sensibilidade do TR em função do tempo, o TR da Wondfo não é adequado para emprego em estudos seriados em amostras da população geral. Ainda, mesmo que os anticorpos não sejam mais detectáveis pelo TR, isso não significa que a pessoa perdeu imunidade contra o coronavírus. No entanto, conforme outros estudos publicados, o TR da Wondfo tem desempenho melhor no cenário de assistência médica para o diagnóstico de Covid-19 em pacientes que buscam atendimento hospitalar e em pessoas com infecção leve no período entre 14 a 30 dias após o início dos sintomas”, revela.

Sobre os testes

Conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), para que sejam tomadas decisões assertivas em favor da saúde pública, é necessário identificar bem as características do vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19. Para isso, a OMS recomenda que o maior número possível de pessoas sejam testadas.

Atualmente existem dois tipos principais de testes: os testes sorológicos, alguns chamados de “testes rápidos”, que levam cerca de 20 minutos para apresentar os resultados, os quais detectam a presença de anticorpos no organismo da pessoa; e os testes moleculares, também chamados de RT-PCR, que apresentam os resultados duas horas após a realização e são responsáveis por detectar a presença do vírus ativo no corpo.

Segundo a professora Ioná, para ter resultados precisos em relação ao diagnóstico da doença, a correta escolha do teste é importante. “Se o teste rápido for realizado precocemente após o contato suspeito, o indivíduo pode estar infectado, mas ainda sem anticorpo detectável (resultado do teste rápido falso negativo). Esse teste deve ser realizado 14 a 20 dias após o início dos sintomas para ser efetivo. Já o teste RT-PCR deve ser feito entre o 3º e o 10º dia do início dos sintomas, pois nesse momento é detectável a presença do vírus no organismo”, explica a pesquisadora. AI/NR

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