Estudo desenvolvido por equipe da Univates estima o impacto da pandemia de covid-19 na assistência odontológica do SUS

Iniciativa verificou diminuição de 99% dos procedimentos preventivos realizados entre abril e agosto de 2020


0
Foto: Ana Amélia Ritt

Professores e pesquisadores da Univates que atuam no curso de Odontologia e pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) publicaram, recentemente, um estudo que estima o impacto da pandemia de covid-19 na assistência odontológica do Sistema Único de Saúde (SUS). O artigo está disponível na revista científica Brazilian Oral Research.

Assinam a pesquisa os professores da Univates Luiz Alexandre Chisini e Francine dos Santos Costa, além da equipe da UFPel, composta por Leticia Regina Morello Sartori, Marcos Britto Corrêa, Otávio Pereira D’Avila e Flávio Fernando Demarco.

Foi realizado um estudo retrospectivo abrangendo 5.564 municípios brasileiros. O professor Luiz Alexandre Chisini destaca que o fato de o estudo ter sido realizado considerando todos os municípios brasileiros (99,9%) que têm atendimento odontológico é um dos destaques da pesquisa. “Este é um estudo com abordagem de séries temporais e análises robustas, tendo sido investigados todos os principais procedimentos realizados pelos dentistas nos níveis de atenção primária e de atenção secundária à saúde”, explica.

O número de procedimentos odontológicos (por 100.000 habitantes) realizados no SUS foi a variável de interesse no estudo. O impacto da pandemia foi estimado pela comparação das taxas de procedimentos realizados em cada mês de 2020 com as taxas observadas nos meses equivalentes de 2019, considerando o período de março a agosto.

Para realizar a análise, os pesquisadores utilizaram como parâmetro a legislação editada pelos governos estaduais de 27 unidades federativas brasileiras que restringiram a assistência odontológica em decorrência da pandemia. “Investigamos se os municípios pertencentes a Estados com decretos de restrição de atendimentos odontológicos teriam menores taxas de atendimentos, mas observamos que os decretos não foram os fatores fundamentais para explicar as mudanças nas taxas”, revela Chisini.

Com o estudo, foi observada redução de 55% em todos os procedimentos em março de 2020, enquanto nos outros meses a taxa de redução permaneceu maior ou igual a 88%. A maior diminuição foi observada nos procedimentos preventivos coletivos (redução maior ou igual a 99%) realizados entre abril e agosto de 2020.

Os aerossóis são as micropartículas de secreção respiratória, que têm grande potencial de dispersar vírus. Justamente os procedimentos com menor probabilidade de gerar aerossóis (exodontia e prótese) e emergências apresentaram a menor redução no número de atendimentos. Essa redução não foi impactada pelas restrições impostas pelos governos estaduais (p> 0,05).

“Os dois instrumentos que mais geram aerossóis são a caneta de alta rotação e o ultrassom. No estudo, observamos que os procedimentos que geram aerossóis tiveram maiores reduções em comparação àqueles que não geram”, explica o professor.

Chisini acrescenta que o impacto da pandemia de covid-19 foi notável pela diminuição do número de procedimentos odontológicos realizados no serviço público de odontologia brasileiro. “A falta de acesso, a demora nos procedimentos eletivos e a falta de procedimentos preventivos coletivos podem resultar em um sistema sobrecarregado pós-pandemia”, finaliza.

Análise do impacto

“Se considerarmos que cerca de 75% dos brasileiros utilizam exclusivamente o SUS (cerca de 158 milhões de pessoas), há uma quantidade enorme de pessoas que estiveram desassistidas durante esse período”, acrescenta o docente.

Os procedimentos preventivos praticamente não foram realizados no ano passado, no período compreendido pela análise. “As abordagens preventivas são extremamente importantes e são as mais efetivas e eficazes para controlar as principais doenças, não só as bucais. Com as normativas que restringem o contato social devido à pandemia – e vale ressaltar que elas são de extrema importância –, os tratamentos preventivos praticamente não foram realizados, o que pode agravar ainda mais o quadro de saúde bucal, principalmente nas populações mais vulneráveis. Além de a pandemia afetar a saúde bucal, ela provavelmente afetará mais as pessoas já socialmente marginalizadas e excluídas, agravando ainda mais as discrepâncias que observamos em saúde bucal”, finaliza Chisini. AI/VM

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui