“Eu iria voltar ao Brasil em junho, mas agora não sei se vou conseguir”, diz estrelense que mora na China

Moradores só podem acessar estabelecimentos da cidade mediante apresentação de um comprovante de saúde.


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Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

O estrelense Felipe Heberle está desde 2016 em Macau, na China. Ele se mudou para o continente asiático depois de conseguir uma bolsa de estudos, por meio de uma parceria da Universidade do Vale do Taquari – Univates. Por lá, ele frequenta aulas de mandarim e agora, depois de quase quatro anos, está prestes a voltar ao Brasil, ou então estava.


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Com os reflexos da pandemia do coronavírus (Covid-19), Heberle diz que ainda existem muitas incertezas quanto ao seu retorno, mesmo que o seu visto termine em agosto. “A minha previsão era voltar no final de junho, só que agora não sei como vai ser. Não tem nenhum vôo saindo daqui e nenhum vindo pra cá. Eu não posso sair de Macau, não posso ir para Hong Kong pegar um avião”, lembra.

O estrelense também acredita que este não seja o melhor momento para vir ao Brasil pois, segundo ele, o país está apenas começando a viver este surto. “Também não é aconselhável eu frequentar um aeroporto, porque tu não sabe de onde as outras pessoas estão vindo, com quem elas tiveram contato. Então ainda não tenho nenhuma data definida para voltar. Estou aqui fazendo minhas tarefas, com aula on-line e vivendo no dormitório”, disse.

Aliás, essa tem sido a rotina do estudante nos últimos meses. O vírus começou a atingir a cidade há aproximadamente três meses. Inicialmente foram dez casos confirmados em Macau, o que levou o governo chinês a tomar uma série de medidas. Inclusive os cassinos, que comandam a região e são umas das principais fontes de renda, ficaram com as portas fechadas por ao menos duas semanas.

Hotéis, bares, festas, academias, escolas de esportes e toda a rede de educação ficaram parados por quase um mês, abalando os moradores. O estrelense mora em um dormitório estudantil e lembra que precisava dar justificativa até mesmo para ir ao mercado.

“O clima era bem tenso, pois essa é uma das áreas mais populosas do mundo e tu não enxergava ninguém na rua. A gente tinha no máximo uma hora e meia para fazer nossas compras e precisava sair de máscara, usar álcool. Vimos que realmente era sério em razão de todas as medidas que o governo impôs. Foi aí que bateu a realidade e percebemos que o corona era bem nocivo para as pessoas” recorda.

Aos poucos, depois de quase três meses, a rotina começa a se normalizar nas ruas de Macau. Heberle conta que o governo tomou algumas medidas para ajudar as pessoas, principalmente os empresários. No mês de março, por exemplo, ninguém precisou pagar conta de água e de luz na cidade. O aluguel de pequenas e médias empresas foi diminuído e muitas pessoas receberam uma renda extra.

A região também está dando início ao processo de repatriação, chamando os cidadãos macaenses que estavam no exterior. Mais de mil estudantes retornaram da Europa e dos Estados Unidos. Com isso, o número de casos confirmados subiu de dez para 31. “São 21 desses casos considerados importados, porque essas pessoas vieram de fora, ficaram na quarentena e tiveram resultado positivo nos exames. Eles nem circularam aqui nas ruas. Se tivessem circulado, provavelmente iriam contaminar muita gente e aí voltaríamos para a estaca zero e todo mundo teria que ficar em casa de novo”, diz Felipe.

No entanto, ele alerta que apenas moradores podem acessar o território de Macau. Trabalhadores não residentes são barrados e tem a entrada proibida. “Macau está totalmente fechada. Quem está aqui dentro não sai e quem está lá fora não entra. A não ser que tu seja cidadão macauense, aí eles permitem o acesso. Mas é preciso ficar em quarentena e quem fugir da quarentena tem grandes chances de ficar 60 dias preso”, esclarece.

Declaração de saúde exigida na entrada de estabelecimentos tem validade de 24h e deve ser feita pela internet

O passeio pelas ruas da cidade, no entanto, está atrelada a algumas restrições. Cada morador deve andar com a sua declaração de saúde em mãos. Um documento que é feito através da internet e consta os dados do cidadão, os locais onde ele esteve nos últimos 14 dias e se apresentou algum sintoma gripal. O documento vale por 24h e precisa ser atualizado todos os dias. Além disso, a população não entra em qualquer estabelecimento sem antes medir a temperatura corporal.

Um dos setores que ainda não retornou as atividades é o de ensino. Existe a previsão de algumas escolas e faculdades voltarem na metade do mês de abril. Felipe teve apenas duas semanas e meia de aula neste semestre, e já foi informado pela Universidade que as atividades retornam só no próximo. “Eu estou no último ano então tenho que terminar minha tese. Aliás, não vai acontecer a defesa do meu trabalho. Só vou ter que fazer uma entrega por e-mail”, destaca ele.

Mesmo com a normalização de alguns atendimentos e serviços, o estrelense relata que a população ainda está lidando com este período que ele define ser tedioso. Isso porque, apesar de já estarem autorizados a sair de casa, os estudante ainda não tem muito o que fazer em termos de lazer. “Macau é uma cidade muito cara, nós somos estudantes e o dinheiro que ganhamos é basicamente para comprar a comida. Então, mesmo que podemos sair, ficamos 80% do nosso tempo no dormitório. Até porque temos muita aula on-line e trabalhos para entregar”, conclui.

Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

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