Evitamos contato com situações que potencializam nossas dores

Leia e assista ao comentário da jornalista, psicóloga e psicanalista clínica Dirce Becker Delwing


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Foto: Ilustrativa / Divulgação

O Dia Mundial de Combate ao câncer de Cabeça e Pescoço foi lembrado na última terça-feira. Bem possível, muitos de vocês nem saibam que existe um dia para esse fim. Eu também não prestaria tanta atenção na campanha se não tivesse uma vivência familiar sofrida nesse sentido. Em 2012, meu pai faleceu em decorrência de um câncer na garganta. Sigo minha intuição para ocupar este espaço e, por conta disso, hoje abordo o tema. Pode ser importante para que alguém, com propensão à doença, preste mais atenção nos sinais que podem aparecer.

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Meu pai sempre foi um homem econômico com as palavras. Ouvia muito mais do que falava. Por isso, quando, de uma hora para outra, parou de conversar, entendemos que poderia estar num estado depressivo, ou que a idade teria potencializado seu jeito discreto de ser. Ficava, o tempo todo, no ambiente onde a gente estava. Ria com os olhos, fazia “sim” com a cabeça e, nas raras vezes em que se pronunciava, a voz soava baixinho e com algum aspecto de rouquidão. Como ele fazia acompanhamento médico constante, nosso receio sempre esteve centrado em outras partes ou órgãos do corpo: coração, pulmão, aparelho digestivo.

E, assim, investimos em insistentes buscas por diagnósticos. Contudo, jamais suspeitamos de que pudesse ter algo na garganta. Trata-se de uma doença silenciosa, assintomática em níveis iniciais, ou, se a gente não cogita a possibilidade, pode ignorar as primeiras manifestações. Soube depois que os sintomas do câncer de cabeça e pescoço variam de acordo com a localização do tumor. O câncer na garganta pode causar rouquidão, nódulos na região, mudança na voz e dificuldade para engolir. Infelizmente, no caso do meu pai, perdemos tempo na busca pela cura. Bem sabemos, que toda doença, diagnosticada precocemente, tem significativas chances de remissão, inclusive sem que a vida do paciente sofra tantas alterações.

Em agosto de 2009, meu pai começou a sentir falta de ar e, em poucas semanas, a gente estava de posse do diagnóstico. Foram três anos sofridos para ele e para a família. Conto isso para lembrar que é importante ficar alerta a sinais. A gente deixa de fazer uma coisa quando ela incomoda, quando ela causa desconforto. O pai parou de falar porque devia sentir um incômodo na garganta. Preste atenção em si. Se você sente dor no joelho por exemplo, mesmo sem se dar conta, vai começar a evitar atividades em que o machucado poderá doer. Talvez evitará sair na rua, recusará um convite para um passeio, tentará ficar mais sentado. É uma espécie de defesa. Você nem se dá conta disso. Isso vale também para as dores psíquicas. A gente evita ter contato com situações que expõem nossas fragilidades, sofrimentos, medos, angústias e traumas.

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