Falta de energia mata 29,5 mil frangos e causa meio milhão de prejuízo em Arroio do Meio

Situação ocorreu na tarde de segunda-feira (11) após um desligamento da energia elétrica sem aviso prévio. RGE foi procurada e ainda não deu retorno.


0
Reportagem conversou com produtores que tiveram perdas e com secretário de agricultura de Arroio do Meio, Élcio Lutz (d) (Foto: Gabriela Hautrive)

Produtores rurais de Arroio do Meio, das localidades de Picada, Forqueta e Forqueta Baixa, envolvendo cerca de oito famílias, perderam 29,5 mil frangos com um prejuízo estimado em meio milhão de reais envolvendo custos com os pintos, rações e cuidados, fazendo com que o valor possa ser ainda maior. O fato ocorreu, conforme os moradores, por volta das 15h da última segunda-feira (11), após um desligamento da energia elétrica para manutenção da rede sem aviso prévio por parte da concessionária responsável pelo fornecimento, a RGE.


ouça a reportagem

 


A maior perda, quase 70% do total, foi do produtor Jacó Gilberto Rauber, de Picada Arroio do Meio, que estima cerca de R$ 300 mil em prejuízo com a morte de 20 mil animais, representando 60 toneladas de carne. “Quando cai a luz, eles ficam sem ventilação, sem nebulização, temperatura sobe dando uma diferença de quatro a cinco graus direto, e então o frango começa a se desesperar e correr um por cima do outro para tentar se salvar e morrem de calor”, explica.

Um aviso prévio sobre o desligamento da energia evitaria o problema, conforme os produtores, pois poderiam se programar e recorrer a geradores, mas isso não aconteceu. “Não sabíamos de nada, só vimos quando caiu a luz, fui no poste de entrada e liguei para eles, e então responderam que tinham quatro horas para nos dar assistência”, conta Rauber.

O tempo estimado, desde a falta de energia, até a morte do primeiro frango, foi de 15 minutos. A empresa foi procurada pela reportagem e questionada sobre a emissão ou não do aviso. No início da tarde desta quarta-feira (13),encaminhou uma resposta informando que os avisos são feitos com 72h de antecedência. Nestor Fuhr, que perdeu 512 frangos, com um valor próximo a R$ 1 mil em prejuízo, agradece por ter conseguido salvar alguns animais. “A outra parte sobreviveu pelo fato de termos dado menos ração na parte da manhã e isso ajudou, além de ser um frango forte.”

Na propriedade de Nestor Fuhr, alguns frangos conseguiram sobreviver (Foto: Gabriela Hautrive)

Quem também teve perdas é o casal de Forqueta, Pedro Volnei Mörs e Adriana, que tiveram que carregar 4.430 mil animais mortos e arcar com um dano de R$ 8,5 mil aproximadamente. “Só sabe o que é quem passa por isso, é uma sensação terrível, ficamos 24h por dia trabalhando, sem Natal e sem Ano Novo, e por conta da incapacidade da RGE, perdemos tudo, em um dia quente, como foi segunda-feira.”

Além dos frangos mortos, outros, em um total de 17,1 mil, estão com a saúde comprometida, conforme o produtor. “O lote está perdido pois eles não se desenvolvem mais, foram muito prejudicados por conta do calor. Quando voltou a luz no painel do aviário marcava 39,5ºC, isso não tem frango que aguente”, ressalta Mörs.

Outra situação, com a morte de 2 mil frangos, foi relatada por Cíntia Gabrieli Liesenfeld. “Caiu a luz então, meu pai logo chegou em casa, dentro de 15 a 30 minutos já começou a morrer frango. Nos preocupamos muito com outros produtores da localidade também, pois os frangos já estavam quase prontos para abate, muito triste.” O momento se torna ainda mais complicado, segundo a produtora, por questões de crueldade com os animais, que morreram de calor e também do odor que fica no local do fato. “É triste recolher eles, ficam amontoados, cria tipo um suco gástrico que tem um cheiro forte.”

Produtores registraram as perdas em suas propriedades (Fotos: Divulgação)

União dos produtores na busca por ressarcimento

O transporte e enterro dos frangos mortos foram feitos com apoio da Prefeitura de Arroio do Meio, através da Secretaria de Agricultura. Conforme o titular da pasta, Élcio Lutz, esse tipo de situação é uma demanda prioritária. “Ajudamos a enterrar para que não acha o acúmulo e comece o cheiro ruim.”

O secretário sugere que os produtores se unam para tentar recuperar o prejuízo de cerca de meio milhão de reais. “Devem procurar o Procon, acho que o caminho será mais justo e mais fácil”, entende. A ideia dos moradores é pedir que a RGE assuma consequências de danos materiais, morais e maus-tratos com animais.

Próximo passo dos produtores será procurar meios para recuperar os valores perdidos (Foto: Gabriela Hautrive)

O que diz a RGE

A reportagem da Rádio Independente enviou alguns questionamentos para RGE, às 6h50 desta quarta-feira (13) via e-mail, canal destinado pela concessionária para atendimento a imprensa. No início da tarde, recebeu uma nota com alguns esclarecimentos:

“A RGE informa que a execução dos Desligamentos Programados tem como principal objetivo promover ações de melhoria na rede de distribuição, visando aumentar a confiabilidade do fornecimento de energia elétrica, seja por meio de manutenção preventiva ou por investimentos na modernização de equipamentos. A empresa trabalha em parceria com veículos de imprensa de toda sua área de concessão para que estas ações sejam comunicadas aos clientes com 72 horas de antecedência.

A RGE ressalta ainda que há outros três Desligamento Programados para os dias 15, 16 e 17 de janeiro de 2021, que podem ser consultados diretamente pelo site da distribuidora ou notificações via celular, para isso basta acessar o site http://spir.cpfl.com.br/Publico/ConsultaDesligamentoProgramado/Visualizar/3 ou baixar o aplicativo CPFL Energia. O cliente que teve algum prejuízo deve entrar em contato com a RGE pelos seguintes canais de atendimento. A análise dos casos é individual e a resposta é enviada ao cliente. Canais de atendimento: Site: www.rge-rs.com.br; App: CPFL Energia (disponível para Android e iOS); WhatsApp: (51) 3539-6791 e Call Center: 0800 970 0900.”

Texto: Gabriela Hautrive
reportagem@independente.com.br

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui