Feiras do livro materializam a fé no conhecimento

A escolha do escritor português José Saramago (1922-2010) como tema da feira de Lajeado neste ano deve ser destacada, ressalta a professora e patrona do evento, Ivete Kist


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Foto: Reprodução

A programação da 16ª. Feira do Livro de Lajeado, a realizar-se de 17 a 21 de agosto próximo, teve início na semana passada com a divulgação dos nomes da patrona e do escritor homenageado desta edição. A feira do Livro de Lajeado é uma promoção do SESC, da Prefeitura Municipal e da Academia Literária do Vale do Taquari (Alivat), além de contar com o apoio de outras instituições e dos meios de comunicação locais . A feira deste ano se intitula “Janelas Literárias – centenário José Saramago”.

A notícia particularmente me toca, porque tenho o prazer de ser escolhida para patrona do evento deste ano, juntamente com o prof. Waldemar Richter, que é o escritor homenageado. Mas me toca, principalmente, porque uma feira de livros materializa a fé no conhecimento e poucas coisas podem ser mais importantes do que o conhecimento na vida das pessoas.

A escolha de José Saramago como tema da feira deve ser destacada. Saramago foi escritor português que viveu de 1922 a 2010. Filho de gente muito humilde (a mãe era analfabeta), teve de deixar a escola cedo, para começar a ganhar a vida. Por anos trabalhou como serralheiro e, mais tarde, como auxiliar de serviços contábeis. Só pode se dedicar mesmo a escrever depois dos 50 anos. Aos 76, em 1998, ganhou o prêmio Nobel da Literatura. Nos 121 anos que o prêmio literário existe, foi a única vez que alguém que escrevesse em língua portuguesa recebeu tal distinção.

José Saramago pode representar uma inspiração para todos os que tem que enfrentar dificuldades para se desenvolver. Também para aqueles que gostam de aprender e se sentem motivados a se aproximar do conhecimento, sem data para começar e sem data para parar.

Interessante falar um pouco sobre o prêmio Nobel. Ele surgiu da iniciativa de Alfred Nobel, o sueco inventor da dinamite. Alfred Nobel estabeleceu em testamento que 94% da sua fortuna deveria ir para a Fundação Nobel que se encarregaria de atribuir cinco prêmios a cada ano. Os prêmios, no valor de um milhão de dólares, se destinam a homenagear pessoas que se destacam por colaborar com o bem-estar da humanidade. São cinco as categorias premiadas: Química, Física, Medicina, Literatura e Paz. Em 1968 começou a ser conferido também o prêmio Nobel de Economia.

Eu morava em Portugal e desenvolvia atividades junto à Universidade de Lisboa, em 1998. Por essa razão pude acompanhar de perto toda a movimentação em torno do prêmio Nobel recebido por Saramago. Ele recebeu várias homenagens na sua terra. Concedeu dezenas de entrevistas, participou de um grande número de programas de rádio e TV. O curioso é que a pergunta mais frequente que lhe faziam era sobre o destino que daria ao dinheiro do prêmio.

Saramago não gostava da pergunta. Reclamava que ninguém perguntava a um jogador de futebol o que ele faz com a fortuna que ganha todos os meses. Achava que a pergunta dava a impressão de que escrever e ganhar dinheiro são coisas que definitivamente não combinam. E nunca deu a menor pista sobre a maneira como gastou o prêmio…

Texto por Ivete Kist, professora, doutora em Letras e escritora

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