Há dias que nos provocam a viver grandes alegrias misturadas com intenso sentimento de pesar

Confira o comentário da jornalista, psicóloga e psicanalista clínica Dirce Becker Delwing.


0

As flores que desejei levar para o nosso chá com bolo, tiveram outro endereço. É o que ainda pude fazer nesse momento de últimas homenagens. Conheci Juliana Braga Morais no Pronto Atendimento do HBB, de Lajeado. Eu me encontrava numa situação de desamparo emocional diante da gravidade da doença da minha mãe. Ela, integrante da equipe de Enfermagem, dava colo com os olhos quando chegava perto do leito. Com uma voz doce e suave, parecia estar sussurrando. Juliana fazia a diferença naquele contexto.


ouça a participação

 


 

Tive a bênção de reencontrá-la em situações semelhantes. Ontem, olhei para suas mãos, cruzadas sobre o corpo, com um sentimento de despedida e de gratidão. Pensei em tantas pessoas que essas mãos socorreram. Quantos dores ajudaram a aliviar, quantas melhoras, quantas curas ajudaram a promover. Juliana partiu cedo demais. Tinha idade para ser minha filha. Deixou a pequena Ísis, que nasceu prematura em janeiro passado. Que seu esposo possa ter muita força na missão que terá pela frente.

Se as palavras desaparecem numa hora dessas, só posso agradecer pela graça que tive de estar com ela nesses últimos anos, desde 2013. Juntas, vibramos por tantas conquistas. A entrada dela para o Exército Brasileiro, a publicação dos meus livros, a chegada da Ísis, sua filha. Também nos unimos na doença. Em fevereiro passado, no mesmo período, estivemos internadas no hospital.

Dávamos força uma à outra. E, assim, seguimos até a sua última mensagem, enviada no começo da semana passada. Nesta segunda foi a estreia do Sala de Espera, novo programa na Independente, que eu apresento na companhia da professora Ivete Kist e do músico Nando Rosa. Na quarta, enviei um áudio para ela, convidando-a para participar de um quadro chamado “Momento Gratidão. Eu agradeço”.

Juliana sempre era grata, apesar de todas as dificuldades impostas pelo tratamento contra a leucemia. Estranhei o silêncio. Estranhei que não tivesse visto a minha mensagem. Juliana era elegante. Não deixaria de se manifestar. Domingo à noite, fui avisada do seu falecimento. Com muita dor, coloquei o ramalhete de flores sobre o caixão.

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui