No Dia da Consciência Negra, Prefeitura de Lajeado anuncia moradias para quilombolas do Morro 25

Comunidade celebrou com atividades realizadas durante a data no município. Licitação será lançada para 13 casas, ao valor estimado de R$ 500 mil.


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Taiane Beatriz da Silva mora no Loteamento 17, que será beneficiado no programa (Foto: Natalia Ribeiro)

Há cerca de um ano, a comunidade do Loteamento 17, no Bairro Morro 25, em Lajeado, aguarda o reconhecimento do título quilombola. Cerca de 30 pessoas moram no local, em casas improvisadas com o passar dos anos. Nesta quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra, a Prefeitura de Lajeado anunciou melhores condições de moradia para os negros. Durante evento que evidenciava a data, o secretário de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas), Lorival Silveira, revelou que 13 moradias serão construídas, via licitação, ao custo estimado de R$ 500 mil.


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O projeto habitacional nasceu de averiguações da administração municipal no loteamento, que fica na Rua da Divisa, entre Lajeado e Cruzeiro do Sul. A assistente social do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Espaço da Cidadania, Eliana Becker, comenta que “eles têm problemas de saneamento e muitas construções antigas e que acabaram ao longo do tempo sendo emendadas”. O anúncio do programa na data em que os negros são lembrados foi visto por ela como um presente. “Que bom que nós pudemos divulgar a notícia neste dia e dar perspectivas”.

Tranças rastafari, partindo da raiz do cabelo, foram produzidas no evento (Foto: Natalia Ribeiro)

A licitação deve ser lançada em breve, conforme o secretário. Enquanto isso, a comunidade aguarda pela concretização do projeto, bem como pelo reconhecimento quilombola. Os moradores se sentiam órfãos de identidade, segundo Taiane Beatriz da Silva, que reside no Loteamento 17. “Descobrimos há quatro anos que somos quilombolas. Éramos chamados de “tigreira”, de um monte de coisas e agora esperamos os papéis. Estamos felizes em ser reconhecidos pelo Cras”.

Nesta quarta-feira Taiane participou de um dia de celebração pela Consciência Negra no Cras Espaço da Cidadania. O evento teve apresentação de teatro, oficinas de turbante, boneca abayomi, trança em cabelo, maquiagem e unha. Atendidos pelo centro e pessoas que moram em comunidades quilombolas participaram do ato. A Rua Júlio May, em frente ao prédio, foi fechada para apresentações culturais. A programação foi pensada junto dos usuários. Um dia de festa e reconhecimento da raça, segundo a orientadora social da Sthas, Heloísa Gasparotto Kronbauer.

Assistente social Eliana Becker (E) e orientadora social Heloísa Gasparotto Kronbauer (Foto: Natalia Ribeiro)

“A gente vem sonhando e planejando este dia há muito tempo. Sempre atendemos a comunidade no Cras, mas há dois anos desenvolvemos oficinas específicas. Temos contato contínuo com essa comunidade e um vínculo muito forte. E a data vem para celebrar todo o momento que a gente viveu e o protagonismo que eles têm”, comenta. Servidores públicos vestiam itens da cultura negra, como faixas, tranças no cabelo e brincos produzidos com capulana, um tecido colorido vindo da África.

Para a jovem Tainê Caroline da Luz Wez, que mora no loteamento, ser chamada de negra e quilombola é motivo de orgulho. “Muita gente fala que ser quilombola é algo vergonhoso, mas para nós não é. Temos orgulho. Pessoas nos chamavam por vários apelidos, porque moramos numa vila, mas agora sabemos quem somos”, diz. Tainê aguarda ansiosamente pela entrega do título. Duas comunidades quilombolas já foram reconhecidas no município: Centro de Cultura Afro Brasileira e Quilombo Unidos de Lajeado. Integrantes dos grupos fizeram programação hoje na Casa de Cultura.

Texto: Natalia Ribeiro / jornalismo@independente.com.br

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