O amor conjugal fica maduro quando as brigas começam a ser infantis 

"Um casal maduro conquista o equilíbrio do afeto e, por conta disso, não faz mais sentido brigar por ciúmes e sentimentos de posse", comenta a psicóloga e psicanalista clínica Dirce Becker Delwing.


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Foto: Ilustrativa

O amor conjugal fica maduro quando as brigas começam a ser infantis. As discussões são breves e intensas, no entanto, logo a harmonia volta e os dois passam a conversar como se nada tivesse acontecido. Feito criança que briga sério por apropriações de brinquedos, porque perdeu no joguinho, porque o amigo chamou sua mãe de feia, o casal maduro rança, um com o outro, porque o controle da tv está sem pilha, porque o copo ficou no quarto ao invés de ser levado até a pia, porque o áudio que a pessoa está ouvindo tem excesso de volume, porque a toalha molhada ficou sobre a cama, porque o outro tem insônia e faz barulho pela casa, porque a luz do corredor ficou ligada durante o dia, porque o outro foi ao mercado e esqueceu de comprar justamente o item que a pessoa havia feito. Um casal maduro conquista o equilíbrio do afeto e, por conta disso, não faz mais sentido brigar por ciúmes e sentimentos de posse.


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Quando o casal está numa relação madura não investe mais tempo e energia em ficar emburrado. Talvez porque sabe que, bem possível, o outro não vai mais mudar, ou até mesmo porque o ranço pode servir para chamar a atenção, feito criança que faz arte para garantir o olhar dos adultos. Afinal, porque eu me preocuparia com o paradeiro dos chinelos de lã do meu esposo, se não fosse para dizer que presto atenção nos pertences pessoais dele? Por que ele pergunta para mim quem pegou ou deixou o calçado em outro lugar? Não seria isso um exemplo típico de quem confia que o outro está de olho no bem-estar alheio, ainda mais em se tratando do chinelo de lã? Sim, um chinelo de lã abriga em si afetos de aconchego, calor e cuidado.

Há uma dose de harmonia nas implicâncias que se estabelecem entre casais maduros, desde que elas aconteçam sem testemunhas, ou, no máximo, diante dos filhos que, por fim, acabam se divertindo com seus velhos. É muito desrespeitoso criticar o companheiro ou a companheira perante outras pessoas. Afinal, você deve apontar defeitos de alguém com um único objetivo: que a pessoa mude seu comportamento. Para isso, não precisa humilhar, constranger, diminuir e expor o outro. Talvez essa seja a maior diferença dos desentendimentos de casais maduros em relação às brigas infantis. Se as crianças chamam a mãe e, muitas vezes, precisam de mediadores para resolver os conflitos, numa relação conjugal madura a mediação é garantida pela autonomia emocional que cada um tem em relação aos seus próprios desejos.

Dirce Becker Delwing, psicóloga e psicanalista clínica

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