O lixo que se atravessa em nossos caminhos

De que maneira lidamos com as partes sujas de nossa existência?


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Foto: Pexels / Ilustrativa

Nessa semana que passou, publiquei um texto nas minhas redes sociais falando de uma situação que volta e meia é pauta de notícias, de conversas informais, mas que, por vezes, ainda parece passar despercebida para algumas pessoas. Pois o que aconteceu foi que eu saí para caminhar aqui no Alto do Parque, em Lajeado, e me surpreendi com a quantidade de lixo que encontrei no caminho. Copos plásticos, garrafas de bebida alcoólica, embalagens, restos de comida e de cigarro, além de cacos de vidro, em quantidade absurda. Tudo espalhado pelo chão, na proximidade de alguns bares, onde há lixeiras disponíveis.


ouça o “postura profissional”

 


 

Não consegui desviar o olhar. Parei, fotografei, compartilhei e pensei. Imediatamente, lembrei da música do Lulu Santos, “assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade”. Porque vamos combinar que tem algumas coisas que já poderíamos ter superado, hein? Tipo colocar o lixo na lixeira. Parece tão óbvio, tão fácil. E é. Basta ensinar uma criança de dois anos que ela aprende. Só que é preciso deixar que ela faça, não fazer sempre por ela.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga (Foto: Rodrigo Gallas)

E por falar em criança, é nos primeiros anos de vida que, por não ter capacidade de cuidar sozinho dos seus “dejetos”, o bebê conta com alguém para fazer isso. Mamãe e papai limpam seu bumbum e se encarregam de dar destino ao conteúdo da fralda. Algumas pessoas se desenvolvem fisicamente e viram adultas, mas talvez seu psiquismo revele uma forte fixação nessa fase, na qual o bebê entende que alguém está sempre ali, pronto pra lhe servir e lhe proporcionar prazer.

 

Em 1930, Freud publicou o célebre texto “O mal estar na civilização”, no qual afirma que, enquanto sociedade, necessitamos de regras, normas, pois sem elas, viveríamos como primitivos e, provavelmente, não sobreviveríamos. Ele defende que com a civilização surge uma lei que barra o prazer, e com isso, vivenciamos uma luta interna entre o que queremos e o que devemos fazer.

Só que para alguns, a lei é reiteradamente negada, “ela vale para o outro, não para mim”. E assim é com tudo. O lixo que vi é apenas um exemplo, uma boa metáfora para as partes nojentas que vivemos tentando colocar pra fora (no outro, na rua, em algum lugar qualquer), porque não queremos carregar conosco aquilo que cheira mal.

Meu convite hoje é para que possamos pensar sobre isso e olhar ao nosso redor, afinal, como humanos, vivemos em sociedade, e tudo aquilo que nos cerca e nos atravessa pode ser entendido como um sintoma do nosso tempo, que está aí para nos dizer algo. Será que estamos dispostos a escutar?

Port Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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