O que levou Bolsonaro a colocar o Centrão na alma do governo e recriar o Ministério do Trabalho

Alterações em importantes ministérios têm movimentado a pauta em Brasília, mesmo durante o recesso parlamentar


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Ciro Nogueira e Bolsonaro (Foto: Reprodução)

No recesso, o Congresso Nacional para, mas a política não. As alterações em importantes ministérios têm movimentado a pauta em Brasília. As trocas promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro trazem de vez o Centrão para o Planalto com a ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Essa pasta tem a função de coordenar a Esplanada e fazer a interlocução com o parlamento.

Nogueira é um membro do alto escalão do Centrão, um grupo político que é famoso por seu fisiologismo e não por uma ideologia clara, que prefere a ocupação de espaços para a distribuição de recursos do que o debate de ideias.

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Para quem não lembra, Bolsonaro prometeu combater esse grupo e essas práticas em um dos pilares centrais de sua campanha à presidência em 2018. Nessa mesma época, Nogueira, seu novo ministro, era seu crítico ferrenho. Presidente do PP, o político chamava o agora presidente de fascista e rasgava elogio a Lula, do PT, quem considerava o melhor presidente que o Brasil já tivera.

Poucos representam tão bem a fluidez que é o Centrão como Ciro Nogueira. Em seu estado, no Piauí, é aliado do governador petista Wellington Dias. No plano federal, o senador deu sustentação a Lula, Dilma e Michel Temer (MDB).

Douglas Sandri é engenheiro, presidente do IFL Brasília e assessor parlamentar. Nas quartas-feiras, analisa os fatos políticos no quadro “Direto de Brasília” (Foto: Rodrigo Gallas)

A guinada de Bolsonaro causa questionamentos de sua base mais ideológica, refratária a esses movimentos. Porém, é curioso notar o contorcionismo de seus aliados para tentar justificar as contradições e defender a postura do presidente. Lembrando seu histórico, o próprio Bolsonaro disse que ele é do Centrão, para o arrepio do seu vice-presidente, que alertou que boa parte dos apoiadores não veria com bons olhos a aproximação. O general Hamilton Mourão acabou criticado pelo presidente, comparando a relação com a de um cunhado, que se tem que aturar.

Na prática, com o governo fragilizado, é o Centrão quem dá as cartas. A chegada de Ciro Nogueira vem logo após um novo de princípio de tensão entre as Forças Armadas e as instituições quando o ministro da Defesa, general Braga Neto, e os comandantes das Forças Armadas saíram em defesa da tese de Bolsonaro sobre voto auditável. Supostamente, o general teria dito ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que se não houvesse verificação impressa de voto, não haveria eleição ano que vem, na mesma linha de declarações do presidente.

Esse episódio foi negado pelos envolvidos. Mas, nos bastidores, há uma teoria de que Lira teria dado um ultimato a Bolsonaro nessa matéria por uma redução de atritos e maior interlocução. Nesse contexto, aliado à questão da CPI da Covid e à necessidade de privilegiar senadores governistas, que o grupo político do presidente da Câmara e do novo ministro da Casa Civil teria ganhado mais espaço na Esplanada, desalojando generais como Luiz Eduardo Ramos, que relutou em ceder a sua cadeira na Casa Civil para Nogueira.

Ministério recriado e repaginado

Na esteira das trocas promovidas pelo governo para acomodar o Centrão na Casa Civil, o general Luiz Eduardo Ramos foi transferido para a Secretaria-Geral da Presidência, e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) novamente foi escanteado do Planalto. Agora o gaúcho vai para o Ministério do Emprego e Previdência, desmembrado do Ministério da Economia. No orçamento, ele leva consigo 85% dos recursos da Economia, por conta da área da Previdência Social.

O governo, que tinha o discurso liberal (a prática é pauta para outra conversa), agora dá um passo para trás, pois esse novo ministério nada mais é do que o antigo Ministério do Trabalho repaginado. Criado no governo fascista de Getúlio Vargas, essa pasta é símbolo da CLT, inspirada na Carta del Lavoro do ditador Benito Mussolini, e da tomada dos sindicatos, transformados em massas de manobra pelos partidos políticos de esquerda.

Além disso, a recriação do ministério traz de volta o medo da recriação do imposto sindical, abolido na reforma trabalhista promovida pelo governo reformista de Michel Temer.

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