O que o jardim da sua casa diz sobre você?

"Seu jardim passará a ser testemunha da sua história de vida", ressalta a jornalista, psicóloga e psicanalista clínica Dirce Becker Delwing


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Foto: Ilustrativa / Pixabay

Meu esposo estava na frente do meu consultório quando comentou que o pátio estaria ficando cada vez mais parecido com o jardim da casa da minha mãe. De imediato, não soube o que ele quis dizer. Contudo, aos poucos, fui entendendo que ele se referia à mistura de flores que eu estava fazendo. Ou seja, não havia um planejamento prévio para o plantio. Dava para ver que as mudas haviam sido colocadas nos espaços vazios tendo como critério apenas as características da planta em relação à luz solar.

Primeiro, não gostei do comentário. Soou como uma fala ao estilo “saíste da roça, mas a roça não saiu de ti”. Isso porque os jardins dos espaços urbanos, em muitos casos, são pensados por paisagistas com a opção por plantas perenes, cuidadosamente escolhidas para que haja harmonia com a arquitetura.

Ao analisar a fala do meu esposo, me dei conta de que, no passado, havia um hábito muito interessante entre as mulheres, a troca de mudas de flores. A pessoa levava a mudas ou as sementes para casa, plantava num recipiente, que podia ser uma lata, uma panela velha, o até mesmo um penico furado. Não importava se combinasse com o contexto.

A preocupação estava centrada no crescimento da planta ou do arbusto. Lembro da mãe nomeando as mudas e dizendo de onde tinham vindo. Cada folhagem carregava a sua história. Uma delas recebia honras de princesa porque tinha sido presente de uma amiga que falecera antes mesmo de ver a planta dar flor.

A reflexão daquele dia faz pensar no quanto pode ser significativo você cuidar de uma planta de forma singular, sem ter como preocupação primeira a estética do jardim. Afinal, o que o jardim da sua casa diz sobre você? “Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles”, escreveu Rubem Alves.

Cheguei a considerar que deveria provocar você a também ter o seu jardim de afetos, elaborado com plantas que você ganhou de presente, ou que adquiriu porque gosta daquela flor, ou daquela folhagem. E, mesmo que sua casa tenha um jardim elaborado por paisagista, talvez você possa reservar uma área para este fim.

Pode ser num pequeno espaço do seu pátio, em floreiras na sacada do seu prédio, ou em algum lugar da sua morada. Pouco a pouco, você terá um acervo de histórias para contar sobre as origens de cada planta. Seu jardim passará a ser testemunha da sua história de vida.

Por Dirce Becker Delwing, jornalista, psicóloga e psicanalista clínica 

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