Os 89 anos do Combate do Fão

A região esteve envolvida na Revolução Constitucionalista de 1932. Conheça os detalhes da história


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A Revolução Constitucionalista de 1932

Pela lógica da Política do Café com Leite, instituída pela oligarquia de Minas Gerais e de São Paulo, um mineiro deveria suceder o paulista Washington Luís (1926-1930) na presidência da República, num sistema de rodízio que durou 36 anos. Luís queria o Paulista Júlio Prestes no cargo, o que ofendeu os mineiros. Antônio Carlos, presidente de Minas, aliado ao da Paraíba, João Pessoa, apoiou Getúlio Vargas. Pestes venceu, mas não assumiria

Em 26 de julho de 1930, João Pessoa, candidato a vice de Vargas, foi assassinado, o que precipitou uma revolução. Em 3 de outubro, Luís entregou o poder a uma junta militar. Como delegado da Revolução, Vargas assumia a presidência provisoriamente. Seu governo, porém, não parecia provisório, e a demora em convocar a Constituinte gerou descontentamentos.

Foto: Arquivo

Em 9 de Julho de 1932, estourou a Revolução Constitucionalista em 9 de julho de 1932 em São Paulo. O governo sufocou a revolta. Mesmo derrotados, os revolucionários conseguiram que Vargas convocasse a Constituinte. Mas foi somente em setembro que um grupo de 60 constitucionalista comandados pelo general Cândido Carneiro Júnior (Candoca), partiu de Soledade em direção àquele Estado, a fim de prestar auxílio aos paulistas. O objetivo era depor o presidente Getúlio Vargas, que governava sem Constituição. Do outro lado, uma tropa do governo, com cerca de mil soldados, era acionada para combater os oposicionistas E foi na Barra do Dudulha, na época limites entre Lajeado e Soledade, que houve o encontro das duas tropas na manhã de 13 de setembro.

Barra do Dudulha nos limites entre Pouso Novo, Fontoura Xavier e Progresso (Foto: Alício de Assunção)

O Vale e o Combate do Fão

O amanhecer de 13 de setembro de 1932 foi marcado por um violento combate entre apoiadores gaúchos da Revolução Constitucionalista e tropas armadas do governo estadual de Flores da Cunha, na localidade de Barra do Dudulha, hoje nos limites entre Pouso Novo, Progresso e Fontoura Xavier, mas na época divisa entre Lajeado e Soledade.

No início de setembro, um grupo de constitucionalistas de Soledade, comandados pelo general Cândido Carneiro Júnior (Candoca), partia em direção a São Paulo para auxiliar os paulistas. O objetivo era depor o presidente Getúlio Vargas. Do outro lado, uma tropa do governo, com cerca de 200 soldados, era acionada para combater os rebeldes.

Na localidade de Campo Branco, situada hoje no município de Progresso, forças lajeadenses se concentraram para apoiar os revolucionários. O Combate do Fão ainda hoje é lembrado pelas baixas e também porque envolveu diversos moradores de Lajeado e Soledade.

Conforme relato no diário do combatente Jorge de Paula, às 20h do dia 12, o acampamento dos revolucionários na Barra do Dudulha foi atacado por forças da Brigada Militar, com tiros de fuzil e rajadas de metralhadora, dando início ao combate. No amanhecer do dia seguinte, o confronto foi decisivo.

Os revolucionários tiveram o auxílio da neblina cerrada que se levantara do Rio Fão e encobria suas margens, não permitindo que os soldados governistas os localizassem. Mas eles lutavam em desvantagem no número de combatentes, na qualidade do armamento e na quantidade de munição. Às 10h, o nevoeiro se dissipou e o campo ficou visível. O ataque governista foi intenso.

Os revolucionários, entrincheirados atrás de uma cerca de pedra e protegidos pelas árvores, ouviam as balas ricochetearem nas pedras e descascarem as árvores. Passado do meio-dia, os revolucionários foram recuando e se escondendo na mata para se reencontrar mais tarde na localidade conhecida como Gramado. O general Candoca, com sua montaria, utilizou uma pequena balsa para passar o rio. Acabaram se dispersando e tomaram diversos rumos. No dia 14, a Brigada Militar abandonou o local.

Munição usada no confronto (Foto: Alício de Assunção)
Cemitério onde estão seis combatentes sepultados (Foto: Alício de Assunção)

Vindo de Bela Vista do Fão, o frei franciscano Tiago Scheffers, junto com alguns moradores, foi ao local e encontrou os corpos de cinco revolucionários que foram ali sepultados. Também já tinham sido enterrados os tenentes João Cândido Alves Filho e Orestes Pereira Marçal, o cabo Rivadávia Cardoso dos Santos e os soldados Frederico Brito da Silva e Nestor Osvaldo dos Santos. Alguns dos revolucionários foram presos, outros receberam perdão.

O número preciso de mortos, até hoje, é uma incógnita. Há quem fale em seis, outros em mais de cem. Conta-se, também, que uma caixa de ferro com armas estaria no fundo do Arroio Dudulha. O escritor José Alfredo Schierholt e a professora e doutora em história Janaíne Trombini tem publicações abordando o episódio.

Professora e doutora em História Janaíne Trombini tem publicações abordando o episódio (Foto: Alício de Assunção)

Texto: Alício de Assunção


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