Pais deveriam rever seus desejos pessoais para garantir a segurança e o bem-estar dos filhos

Leia e assista ao comentário da jornalista, psicóloga e psicanalista clínica Dirce Becker Delwing


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Foto: Reprodução / Pixabay

“Talvez você deva conversar com alguém” é um livro muito interessante. Tem 446 páginas. Escrito por uma psicóloga, colunista do New York Times. Ela se chama Lori Gottlieb. Na obra, o enredo é contado em primeira pessoa. A personagem é uma psicóloga que fala da sua vida pessoal, ao mesmo tempo em que reflete sobre as narrativas dos seus pacientes. Trata-se de uma ficção, uma história inventada, mas que, em muito, pode se parecer com a rotina da autora. A parte que quero destacar é quando a personagem decide romper o relacionamento com seu namorado porque ele não está afim de conviver com o filho dela, um menino de oito anos.

Tudo parecia estar bem até que o namorado pontua que não será capaz de morar com uma criança debaixo do mesmo teto. A mulher fica incomodada porque percebe que ele quer se casar com ela, mas reconhece que não consegue dividir a atenção com uma criança. Quer poder ter a possibilidade de viajar num final de semana, ou chegar em casa do trabalho e sair para comer, sem se preocupar com uma terceira pessoa. Quer a privacidade de um casal, não a sensação de uma família. “Quando soube que tinha um filho, disse a si mesmo que não era o ideal, mas não comentou nada comigo porque pensou que iria se adaptar”. (P.27) Contudo, não conseguiu lidar com a situação.

A história narrada no livro a gente escuta por aí, ou até mesmo pode presenciar em relações próximas da gente.  Quantas vezes, a pessoa que tem o filho, ou os filhos, não consegue perceber que suas crianças não são bem-vindas no novo relacionamento. Quantas vezes, tomada por uma paixão avassaladora, a pessoa deixa de ver, ou finge não enxergar que as crianças estão sofrendo. Nem sempre é tão fácil assim refazer a vida amorosa depois que a pessoa tem filhos. Sem dúvida, o mesmo acontece com quem entra numa relação em que o outro tem filhos. É preciso ser capaz de lidar com as demandas que farão parte da rotina familiar.

Crianças fazem barulho, têm necessidade de atenção e dedicação, roubam a cena nos mais diversos momentos, o que também acontece com filhos maiores ou adolescentes. Quem é pai ou mãe é convocado a abrir mão de desejos pessoais, se isso for necessário para a garantia do bem-estar e segurança das crianças. No entanto, quantas histórias de maus-tratos, judiações e maldades camufladas a gente ouve todos os dias. E mesmo crimes bárbaros. O caso mais recente aconteceu em Imbé na semana passada. A mãe teria dado remédios para o filho de sete anos, colocado o corpo em uma mala e jogado no rio. Tudo feito com a ajuda da companheira da mulher.

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