Pavimentadora de Lajeado é alvo de reclamações de moradores por problemas em obras assumidas

Dossiê entregue ao Grupo Independente cita ocorrências em três ruas do município. Proprietário da Pavicedro diz que casos serão resolvidos.


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Placa na Rua Frederico Arnaldo Weber diz que o trecho está em obras, mas não há máquinas no local (Foto: Natalia Ribeiro)

Um dossiê entregue recentemente ao Grupo Independente elenca uma série de problemas envolvendo a empresa Pavicedro, registrada no município, e o descumprimento de obras que foram contratadas com a construtora. As vias ficam nos bairros Centenário, Moinhos D’Água e Universitário, em Lajeado. Diante das suspeitas, a emissora procurou os moradores e foi aos locais para entender o que estava ocorrendo. Foram constatados problemas como pavimentação inacabada, bocas de lobo abertas, desníveis na estrada e construções que sequer saíram do papel.


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As demandas dos moradores foram colhidas pela reportagem, que as veiculou na tarde desta sexta-feira (18), no programa Rádio Repórter. No mesmo espaço, o proprietário da empresa, Flávio Kunz, foi convidado para apresentar suas explicações. Depois, o secretário de Obras Públicas de Lajeado, Fabiano Bergmann, e o coordenador da pasta, Cassiano Jung, falaram como é feito o Programa de Pavimentação Comunitária, o qual foi adotado em todos os casos com problemas. A seguir, listaremos as reclamações em cada via.

Avenida Aury Stürmer, no Bairro Moinhos D’Água

Proprietários do loteamento contrataram os trabalhos da Pavicedro em agosto de 2018. Mas a negociação teve início em março, quando o vereador Eder Spohr (MDB), que mora no bairro, criou um grupo no WhatsApp e incluiu os moradores que expressaram interesse em pavimentar a via e amenizar a poeira levantada pelos carros, ônibus e caminhões que fazem o trajeto, de 1.400 metros quadrados.

Spohr relata o seu envolvimento com o assunto. “A gente fez uma reunião e eu passei o contato de três pavimentadoras, do Flávio Kunz, do Christian Gasparotto e da Pavimentadora Mello. Então os moradores acharam que tinha o melhor preço, e devido a algumas ruas que a Pavicedro tinha feito, eles escolheram o Flávio”.

Depois disso, encontros ocorreram com a presença do construtor, dos moradores e do vereador. “Dia 13 de julho o Flávio disse que, no máximo, em 120 dias a obra estaria pronta”, fala o legislador lajeadense. A assinatura ocorreu em agosto, porém, até hoje os contratantes não têm cópias do documento – e a obra não andou. Em visita ao local, a reportagem confirmou que somente o meio-fio foi colocado.

No total, são nove proprietários, sendo a maioria deles de terrenos. Há apenas duas casas no perímetro. Como a previsão de conclusão não foi respeitada, a comunidade diz que tenta contato com Kunz. No entanto ele não atenderia as chamadas.

Um deles conversou com o Grupo Independente, relatou os fatos, mas preferiu não se identificar e tampouco dar entrevista. Mesmo assim, contou que na noite desta quarta-feira (17) os moradores se reuniram para discutir o problema. Durante o encontro, eles aceitaram uma proposta feita pelo construtor e irão comprar o material necessário para a obra em uma empresa de Teutônia. Sendo assim, farão o pagamento dessa forma e não mais à Pavicedro, como tinha sido previsto inicialmente.

Apenas um dos proprietários já quitou o serviço e, por isso, não precisará comprar materiais. Cerca de 43 mil blocos deverão ser adquiridos. Os contratos são individuais e vão de R$ 3.800,00 a R$ 6.200,00 cada. Agora previsão é que a carga seja entregue na próxima semana e a obra finalizada em 15 dias.

Rua Frederico Arnaldo Weber, no Bairro Centenário

Assim como ocorre com os moradores da Avenida Aury Stürmer, cópias do contrato ainda não foram entregues a quem reside na Rua Frederico Arnaldo Weber. Nesse caso, porém, o documento foi assinado em fevereiro de 2018. Quatro quadras foram contempladas na pavimentação, totalizando 16 terrenos e cerca de 400 metros.

Restam cerca de 30 metros a serem pavimentados. A parte que ainda não recebeu a obra está com o trânsito bloqueado. Além disso faltam tampas nas bocas de lobo, nas grades das caixas de passagem, acabamento final está com problemas e os canos de água entupidos. Um dos moradores, que não se identifica, comenta a situação.

“É até vergonhoso, por todos que pediram e queriam organizar, fazer uma coisa bonita, ficou até algo vergonhoso para nós. A rua está trancada e as pessoas não conseguem passar, sendo que é uma rua de bastante movimento e que leva para o fundo do bairro. Agora tá assim abandonado, trancado e abandonado”.

O homem financiou R$ 8 mil no banco para pagar a obra. Outro contratante, que também adota o anonimato, comenta a situação dos canos. “Quando chove muito as bocas de lobo ficam todas entupidas, não passa mais água, nada, e a rua poderia estar pronta. Já faz quase um ano que foi começado”. Segundo ele, a Pavicedro havia se comprometido em desentupir o encanamento, o que não teria sido feito.

Na tarde da última quarta-feira (16), a reportagem foi ao local e visualizou que a obra de pavimentação está parada. Há placas que informam sobre a presença de máquinas na pista, contudo, os carros inexistem. Segundo a comunidade, faz dois meses que a construção parou. A passagem de veículos de passeio é prejudicada no trecho.

Rua Mossoró, no Bairro Universitário

A referida via teve a pavimentação com bloquetos contratada para metade da sua extensão. Da parte envolvida no negócio, a maioria foi finalizada, mas restam acabamentos e um trecho pequeno, em frente a uma das residências. O proprietário desta não quis dar entrevista, mas disse ao Grupo Independente que fez dois pagamentos em cheque, totalizando R$ 2 mil, e que sustou outros três, de R$ 1 mil cada, já que o serviço combinado não foi feito. Faltam apenas cerca de quatro metros.

A emissora verificou que o início da pavimentação apresenta problemas em um dos cantos. Há um buraco sem blocos. Outro contratante, que não se identifica, avalia. “Tá bem claro, a obra deram por encerrada, mas falta uma parte aqui, que era pra ser concluída e onde fizeram está estourando de novo e, então, acho que para a obra ser concluída teria que ser completado o final disso aqui, e está pela metade”. Somente ele pagou R$ 16,6 mil para cerca de 350 metros de pavimentação.

Diferentemente das outras ruas, nessa os proprietários têm os contratos em mãos. O senhor, que é proprietário de terrenos, inclusive recebeu o recibo de pagamento. Conforme relato de outro proprietário, a obra foi suspensa diversas vezes e ele teve de comprar brita, pois Kunz alegava que não tinha material para trabalhar.

Empreiteiro rebate alegações de moradores

O responsável pela Pavicedro, Flávio Kunz, rebateu as afirmações dos moradores em entrevista ao programa Rádio Repórter desta sexta-feira (18). Ele nega as alegações de problemas de comunicação e de que não responde aos questionamentos apresentados pelos moradores. “Sempre que eu não atendo o telefone, não posso, vou ligar de volta.”


ouça a entrevista


 

Em relação à Rua Mossoró, no Universitário, o empresário alega que os moradores não leram os termos do contrato que assinaram; que só pode executar as obras quando há adesão de 100% dos moradores da rua, por força da lei que instituiu o Programa de Pavimentação Comunitária; e que o pagamento só é realizado quando o trabalho é entregue aos moradores.

Sobre um morador que sustou parte dos cheques dados como pagamento, Kunz disse esperar que o pagamento seja feito, já que se comprometeu em terminar a obra. Sobre blocos de que concreto que estão faltando no pavimento da Mossoró, o construtor diz que foram furtados.

Proprietário da empresa, Flávio Kunz, contesta relato de moradores (Foto: Tiago Silva)

Segundo ele, além da Avenida Aury Stürmer, no Bairro Moinhos D’Água, onde o trabalho deve começar a partir da próxima semana, não tem nenhuma pavimentação atrasada. Ao se referir à Avenida Aury Stürmer, ele diz: “Essa eu admito que errei.”

Kunz sustenta que sua empresa tem capacidade para realizar as obras contratadas, mas que sua pavimentadora e as demais do ramo enfrentam problemas com abastecimento de materiais. É o caso, segundo ele, que ocorre na Rua Frederico Weber. O trabalho na via do Bairro Centenário parou em função da falta de pó de brita. O fornecimento é feito pela prefeitura, que deve normalizar a entrega a partir da semana que vem. “Depois, em dez dias fica pronto”, assegura.

“A única administração que me deu obra para fazer é a do Marcelo Caumo. Eu não vou deixar a administração em maus lençóis”, diz ele, ao defender que está seguindo os contratos firmados e executando as pavimentações em tempo adequado.

Prefeitura enaltece a pavimentação comunitária

Em meio às reclamações e explicações do empreiteiro, a Prefeitura de Lajeado enaltece o Programa de Pavimentação Comunitária, criado pela lei municipal 10.424, de 29 de junho. Conforme o secretário de Obras, Fabiano Bergmann, e o coordenador da pasta, Cassiano Jung, desde que o programa foi instituído, a prefeitura tem batido recordes de pavimentação em Lajeado. São 84 ruas finalizadas desde então.


ouça a posição da prefeitura


 

Cassiano Jung e Fabiano Bergmann (Foto: Tiago Silva)

Dez empresas trabalham com pavimentação comunitária em Lajeado atualmente. A prefeitura permite, no máximo, três ruas por vez por empresa.

Dessa forma, concomitantemente, são executadas a pavimentação de 15 no município via contratos celebrados pelos moradores com as construtoras.

Bergmann e Jung destacam que a prefeitura não participa do processo de escolha das empresas que executarão as obras em cada rua, competência exclusiva dos moradores. À administração municipal cabe fornecer materiais, como pó de brita, e realizar o acompanhamento dos trabalhos. Jung pondera que podem surgir “pequenos transtornos”, “mas conversando com os moradores a gente vai buscar a melhor solução”. TS/NR

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