Postura profissional: as playlists e nossa dificuldade de lidar com o acaso

Vivemos a época das playlists. Existe playlist para tudo. Até playlist para criar playlist


0
Foto: Pixabay / Ilustrativa

Vivemos a época das playlists. Existe playlist para tudo: organizadas por gênero musical, voltadas a uma finalidade bem específica, selecionadas para uma determinada hora do dia. Dei uma pesquisada rápida e encontrei algumas bem curiosas: playlist para arrumar a casa, para estudar filosofia, para se sentir poderosa. Talvez exista até playlist para criar playlist.

Sem dúvida, elas têm uma grande serventia, afinal, alguns momentos ou ambientes necessitam de um controle maior sobre o que se ouve e sobre as emoções que poderão ser despertadas. Você não vai tentar fazer um bebê dormir com músicas estimulantes ou colocar uma canção de ninar em uma festa.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga, no quadro “Postura Profissional”

Por outro lado, fiquei pensando que isso também revela o quanto nos afastamos de nossa capacidade de lidar com a surpresa, com aquilo que é aleatório. E falo aqui da surpresa de sentir mesmo, porque se tem algo que é capaz de mexer com nossos sentimentos é a música. É incontrolável; ela chega e nos arrebata, faz viajar, voltar no tempo, lembrar de pessoas e de situações, leva a imaginar o futuro, nos faz sonhar acordados e experimentar diferentes sensações no presente.

Escuto com frequência, inclusive na clínica, sobre a dificuldade de se deixar levar pelo pensamento, algo que, ainda que inconscientemente, mostra-se perigoso. E não deixa de ser, se entendemos perigo como tudo aquilo que nos desestabiliza. O problema é que esse suposto equilíbrio também pode facilmente nos arrastar para a mesmice, para a inércia.
Permitir-se pensar, sair do raso e ir a fundo nas nossas questões, favorece uma postura mais crítica sobre o mundo e sobre nós mesmos, abre portas e nos libera para encontrarmos caminhos nem sequer imaginados.

Eu confesso que continuo sendo uma ouvinte de rádio justamente por encontrar nesse meio uma oportunidade de experimentar o inesperado, o sem controle; porque, excluindo-se aqueles programas que só tocam as mais pedidas, eu nunca sei o que virá a seguir e pra onde aquela canção vai me levar.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui