Prefeitura de Lajeado diz que previsões de inundação do CPRM tiveram grande margem de erro e que reclamação é relacionada à falha do sistema

Administração se manifestou após engenheira hidróloga do Serviço Geológico do Brasil ter afirmado que o CPRM enviou mais de 30 boletins para a Defesa Civil.


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A Prefeitura de Lajeado emitiu seu posicionamento no fim da tarde desta terça-feira (14) a respeito das declarações dadas pela engenheira hidróloga do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Andrea Germano, na manhã desta terça-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha. Segundo ela, os boletins com a previsão de cheias no Rio Taquari foram enviados mais de 30 vezes às autoridades da Defesa Civil de Lajeado.

Atendendo contato da Rádio Independente, Andrea explicou que esse 30 boletins foram enviados do dia 07 até esta terça-feira (14). Normalmente são três boletins diários, mas como a situação estava mais complicada no dia 08, teriam sido enviado quatro boletins prevendo a elevação das águas do Rio Taquari.

A nota da prefeitura diz que município nunca negou o envio de informações, mas sim que o sistema havia falhado na coleta e publicação das informações. “Houve falha na manhã do dia 08/07, mais precisamente nas leituras das 8h e 9h, e também nas informações da madrugada no dia 09/07, o pior momento da cheia, quando o sistema chegou a informar que o rio havia alcançado mais de 28 metros na madrugada. Inclusive, estes erros foram tema da imprensa regional na madrugada. As informações foram corrigidas pelo menos duas vezes no início da manhã do dia 09”, diz o texto.

Engenheira hidróloga do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Andrea Germano (Foto: Reprodução)

Quanto a estas falhas, Andrea explica que houve problema de satélite e que isto “é inerente ao sistema”. Segundo ela, quando há falha na leitura do sistema, normalmente, os colaboradores vão ao local para fazer a leitura para que as informações não deixam de ser passadas. Andrea concederá entrevista no programa Redação no Ar, às 15h20 desta quarta-feira.

Segundo a prefeitura, os boletins mencionados por Andrea Germano apresentavam previsões que se mostraram com grande margem de erro em diversos momentos entre os valores previstos e ocorridos. “Por exemplo, no boletim enviado no dia 07/07, às 19h (quando o rio estava em 15,43m), a CPRM estimava que, dentro de 12 horas, o nível do rio “provavelmente, atingirá valores entre 17 e 18m”, conforme imagem em anexo. Às 7h do dia 08/07, o rio alcançou o nível de 23,03m ou seja, se o município tivesse confiado nos dados disponibilizados pela CPRM, não teria sido necessário retirar ninguém de casa, já que a cota de inundação, de 19,80m, não teria sido atingida. Foi um erro de mais de 5 metros em um momento crítico em que a maior parte das casas seria atingida. Mas, de forma preventiva e acertada, a Defesa Civil municipal agiu cedo e começou a retirar famílias de suas residências a partir das 18h do dia 07/07, o que permitiu que evitou perdas e prejuízos a dezenas de famílias”, cita.

A nota traz outro caso. “Um outro exemplo, já mais próximo do que veio a ser o pico da cheia, ocorreu no boletim enviado no dia 08/07, às 14h (quando o rio estava em 25,78m). Nele, a CPRM previa que o rio Taquari poderia atingir entre 25,90m e 26,30m às 18h em Estrela, mas o nível real alcançado foi de 26,62m. Estes 32cm, com o rio a esta altura, fazem grande diferença para prevenção de danos”.

Confira o Boletim enviado pelo CRM

A Administração Municipal diz reconhecer a importância do sistema de monitoramento, porém considera que são necessários aprimoramentos, como a ampliação do número de estações de monitoramento ao longo da bacia hidrográfica. “Além disso, como ficou demonstrado, as previsões devem ser melhor calibradas para reduzir os erros, ampliar a precisão dos dados e, assim, se tornar uma fonte confiável de informação.”

A Prefeitura de Lajeado informa já estar em tratativas com os órgãos estaduais e federais responsáveis para buscar melhorias para toda a região, de modo que não apenas Lajeado, mas os demais municípios do Vale do Taquari possam melhor prever as respostas a eventos deste tipo. “Em um evento de enchente, o sistema de monitoramento é um elemento relevante, mas que não substitui os serviços, a experiência dos servidores públicos conhecedores da situação, as equipes que ficaram em tempo integral à disposição das famílias para remoção, mesmo durante a madrugada, e o acompanhamento das famílias que foram desalojadas. Em razão deste conjunto de fatores, a maior enchente dos últimos 64 anos ocorreu sem óbitos nem feridos em Lajeado”, finaliza.

O que diz o CPRM:

O Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Rio Taquari (SAH-Taquari) implantado pelo Serviço Geológico do Brasil / CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais está em operação desde 2015. O SAH – rio Taquari faz parte do programa 2040 – Gestão de riscos de Desastres implantado em 2013. Desde o final de 2011 a CPRM ficou responsável pela implantação e operação de 16 Sistemas de Alerta Hidrológicos atendendo 62 Municípios com previsão hidrológica e 7,9 milhões de pessoas beneficiadas pelos sistemas de alerta em operação, bem como iniciou em novembro de 2011 em localidades selecionadas pela Defesa Civil Nacional o trabalho de mapear, descrever e classificar as situações com potencialidade para risco alto e muito alto a desastres naturais, como inundações e deslizamentos de terras.

Após a implantação da lei 12.608/2012, os mapeamentos das áreas com potencialidade para risco alto e muito alto executados pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM deixaram de ser uma ação emergencial e passaram a integrar o Programa de Gestão de Riscos e Resposta a Desastre do Governo Federal. O valor público destas ações é “Contribuir para prevenção e mitigação das consequências dos desastres naturais”.

A Bacia do rio Taquari foi escolhida pelo Governo Federal, para implantação de um Sistema de Alerta Hidrológico, por ser historicamente uma área muito afetada pelas inundações. Foram investidos recursos do Governo Federal, na aquisição de PCDs (plataformas de coletas de dados), instalação, manutenção e modelagem hidrológica. O SAH rio Taquari conta atualmente com 12 (doze) pontos de monitoramento dos níveis dos rios e das precipitações, a saber: Passo Tainhas, Vacaria, Ibiraiaras, Serafina Correa, Auler, Linha José Júlio, Muçum, Encantado, Estrela/Lajeado, Bom Retiro, Porto Mariante e Taquari.

Todos estes pontos de monitoramento estão equipados com estações telemétricas, que transmitem os dados em tempo real, via satélite. A maioria destas estações telemétricas, que compõem o sistema de alerta hidrológico do rio Taquari hoje também integram a Rede Hidrometeorológica Nacional de Referência (RHNR). A operação e manutenção destas estações, bem como o uso dos equipamentos de medição em campo tem apoio operacional e financeiro da Agência Nacional de Águas (ANA) através do Termo de Execução Descentralizada (TED) de operação da RHN.

O monitoramento das chuvas o dos níveis dos rios são realizados de forma automáticas através de Plataformas de Coletas de Dados (PCDs). O maior diferencial do SAH são as previsões dos níveis, realizadas pelos Engenheiros através de modelos matemáticos, que calculam os possíveis níveis que serão atingidos nas próximas horas e enviam à Defesa Civil e aos demais agentes públicos interessados, através da emissão de Boletins Extraordinários, de modo a fornecer as informações necessárias à remoção preventiva de pessoas e bens materiais de áreas de risco.

A CPRM opera os seus 16 Sistemas de Alerta Hidrológico dentro da plataforma SACE (Sistema de Alerta de Eventos Críticos). No SACE as aquisições dos dados são realizadas a cada 15 minutos, mas transmissões realizadas a cada uma hora. Assim que os dados chegam no SACE os engenheiros realizam uma consistência rápida, pois como são transmitidos via satélite, podem ocorrer erros de transmissão e, então são calculadas as previsões dos níveis futuros. Atualmente no SAH – Taquari as previsões são realizadas para os municípios de Muçum, Encantado, Estrela e Lajeado.

Nosso trabalho nos Sistemas de Alerta Hidrológico funciona continuamente, sem interrupções durante o ano inteiro, seja através das constantes manutenções, neste momento prejudicadas devido às limitações impostas pela pandemia da Covid-19, seja pelo trabalho diário no acompanhamento da transmissão dos dados e nos plantões, intensificados nos momentos críticos, mas sempre atuante. Entretanto, é importante esclarecer que mesmo com as manutenções preventivas e corretivas constantes, realizadas pela CPRM, não é possível garantir que não ocorram falhas, pois são equipamentos eletrônicos de alta tecnologia e exposto a condições adversas, como chuvas torrenciais, raios, trovões e a força das águas dos rios.

Nosso compromisso diante da Pandemia e consequente limitações de ida ao campo foi garantir Emissão dos Boletins Extraordinários, pois mesmo que os equipamentos apresentem falhas e erros inerentes a transmissão nossos engenheiros entram em contato com observadores mantidos pelo Sistema, em campo.  O trabalho está sendo realizado em regime de contingência, onde os engenheiros estão realizando as previsões, via trabalho a distância e utilizando modelos hidrológicos alternativos, com os dados obtidos via observadores, mas sempre tentando garantir que as previsões, via Boletins, continuem sendo realizadas e que as informações continuem sendo transmitidas para as defesas civis.

Estamos abertos para qualquer tipo de esclarecimentos e nossa intenção é a melhoria continua de nossos Sistemas de Alerta Hidrológico.

O primeiro boletim emitido, neste evento foi no dia 07/07/2020 às 19h, com previsões de níveis para as 07h do dia 08/07/2020 já foram emitidos 36 boletins com previsões entre 4 a 12 horas de antecedência, aos níveis ocorridos. Os níveis do Rio Taquari, no momento do envio do primeiro boletim, nos Municípios de Estrela/Lajeado, Encantando e Muçum era, respectivamente, de 1543, 760 e 875 cm. Em todos os boletins informamos que “As previsões apresentadas neste boletim são baseadas em modelos hidrológicos e estão sujeitas às incertezas inerentes aos mesmos”.

A seguir é apresentado um gráfico comparando os níveis atingidos pelo Rio Taquari em Estrela Lajeado com os níveis previstos nos Boletins com as previsões realizados pela CPRM.


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