Será que é possível se sentir “o melhor” e não perder a noção de sua insignificância no mundo?

"Acredite em si, mas não duvide sempre dos outros", já dizia Machado de Assis


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Encontro diariamente nas mídias que consumo orientações sobre como devemos nos sentir incríveis e poderosos para alcançarmos um lugar de sucesso. E tem dias que isso faz muito sentido, que acordamos nos sentindo bem, saímos para o mundo nos achando bonitos, inteligentes, amados, com aquela sensação de que podemos mover montanhas. Só que o jogo da vida tem suas reviravoltas, e então, traz consigo aqueles dias em que parece que está tudo errado, olhamos para o espelho e nos criticamos, achamos as produções dos outros muito melhores e não temos força para movimentar uma palha sequer. Essa oscilação, quando não se trata de um quadro mais grave, de sofrimento exagerado, é natural, faz parte do risco que é viver.

No início da vida, acreditamos que nós somos tudo, somos o próprio mundo, e é assim mesmo que tem de ser. O narcisismo, que costumamos qualificar como algo ruim, é natural e necessário. E sendo um estado que nos constitui, estará sempre conosco em alguma medida, nunca o abandonamos completamente.

Com o passar dos anos, vamos entendendo que não somos o centro de tudo. Mesmo que mamãe e papai nos achem os mais lindos e inteligentes, lá fora, encontramos um monte de gente bonita e esperta, e nos resta aprender a lidar com os diferentes tipos de olhar que nos serão lançados.

Então, se por um lado, precisamos nos sentir capazes de realizar o que quer que seja, e gostamos, volta e meia, de nos achar a bolachinha mais recheada do pacote, por outro, e ao mesmo tempo, precisamos saber que não é bem assim, e que perder a noção de nossa insignificância e dos nossos limites pode ser perigoso.

É nesse jogo de equilíbrio e desequilíbrio que nos diferenciamos, ora pendendo para um lado, ora para outro. Machado de Assis, em poucas palavras, consegue indicar uma interessante possibilidade de lidar com essa questão existencial. Ele diz: “Acredite em si, mas não duvide sempre dos outros”.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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