Utilização de terceirizada para contratação de funcionários indicados por políticos é denunciada na câmara

Tema dominou a sessão desta terça (18) em Lajeado. Integrante da situação chegou a admitir uso da empresa Arki para tal finalidade.


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Ildo Salvi (Rede) saiu em defesa do governo Caumo e da empresa Arki (Foto: Natalia Ribeiro)

Denúncias envolvendo a suposta utilização de uma empresa terceirizada pela Prefeitura de Lajeado, com o objetivo de empregar pessoas indicadas por políticos, voltaram ao plenário da Câmara de Vereadores de Lajeado na sessão desta terça-feira (18). Com mais força do que em encontros anteriores, o tema dominou a sessão. Um vereador da base governista chegou a admitir que a prática é adotada na gestão municipal, por meio da Arki Assessoria e Serviços.


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No governo do prefeito Luís Fernando Schmidt (PT), quando se instituiu a Arki, funcionou como está funcionando agora. Não sei se teve vereador aqui que não indicou alguém para a Arki”, disse o governista Ernani Teixeira (PDT). Conforme a vereadora Mariela Portz (PSDB), que também integra o governo do prefeito Marcelo Caumo (PP), a empresa tem cerca de 230 funcionários. A Arki presta serviços de zeladoria e limpeza ao município e em três anos recebeu pelo menos R$ 30 milhões.

Com relação aos Cargos em Comissão (CCs), ou seja, profissionais indicados, a prefeitura soma 107 funcionários. A suspeita é que a Arki seja utilizada para disfarçar indicações políticas. Durante os pronunciamentos, Ildo Salvi (Rede) subiu o tom em defesa da Arki. Para ele não há irregularidades. “Se a Arki é usada por esse governo como um cabide de emprego, para evitar CCs, porque o governo Caumo indica pessoas pela competência? Não vejo luta por cargos na administração”, disse ele.

Em 2019 a câmara aprovou projeto que orienta a publicação da listagem mensal com os nomes dos empregados contratados por empresas prestadores de serviços terceirizados ao município de Lajeado. Em maio a matéria foi sancionada pelo prefeito, porém, depois disso a administração ingressou na Justiça para tentar impedir a aplicação da lei – o que foi posteriormente negado.

A oposição questiona a atitude do prefeito, visto que seu pai e irmão são advogados da Arki “Acredito que o prefeito vai colocar a mão na consciência e colocar o nome dos funcionários da Arki no portal de transparência”, falou Paulo Tóri (PPL). Até 2013 Marcelo Caumo também atuava como jurídico da Arki. O primeiro contrato com a prestadora foi celebrado na gestão da prefeita Carmen Regina (PP), em 2008.

Passada uma hora do início da sessão, Mariela pediu espaço para anunciar aos colegas que a lista havia sido publicada há minutos no site da prefeitura. “Acabou a era de que quantos mais cargos maior a chance de se eleger. Vocês sabem que os objetivos dos partidos é de ocupar o poder. Foi o caso no governo Schmidt, em que eu trabalhei por alguns meses e saí pela sua incompetência”, pontuou a tucana.

Integrantes da oposição acreditam que funcionários da Arki possam ter sido demitidos antes da divulgação da lista, nesta terça. Por isso, Carlos Eduardo Ranzi (MDB) solicitou que sejam informados os contratados nos últimos seis meses.

Sessão acalorada

Sem projetos apreciados e aprovados em 2020, a câmara tem protagonizado sessões com debates acalorados desde o começo do ano, que terá eleição municipal. Com relação à Arki, Eder Spohr (MDB) e Mariela trocaram farpas. O emedebista desafiou a tucana a provar que não fez indicações políticas à empresa. “Vamos mostrar quem tem ou quem não tem. Quem sabe poderíamos apostar uma renúncia de mandato.

Já Adi Cerutti (PSD) mandou um recado direto e nominal ao colega Ranzi. “Vamos torcer que a Arki não feche, vereador. Pois se caso acontecer, o que eu duvido que ocorra, de o senhor ser um dia prefeito de Lajeado, precisará de duas Arkis para o senhor acomodar as suas equipes”. “O senhor tem como provar?”, questionou Ranzi.

Voltando de recesso, Carlos Ranzi (MDB) pediu à prefeitura mais informações do contrato com a Arki (Foto: Natalia Ribeiro)

Líder de governo e vereador mais antigo no parlamento local, Waldir Gisch (PP) tentou amenizar o caso e pediu calma aos colegas. “Vamos pensar no coletivo. A comunidade vai nos julgar pelas nossas posições, não pelo que é trazido e, muitas vezes, sem o devido fundamento”.

Ildo Salvi ainda relacionou as denúncias contra a Arki a supostas indicações políticas para o Instituto Continental de Saúde (Icos), que, segundo ele, teriam ocorrido. “Defendo, sim, esse governo, pois não vejo problemas como naquele governo que eu elegi em 2012 e que depois saí”, falou. Salvi ainda afirmou que tanto Ranzi quanto Sérgio Kniphoff (PT) indicaram funcionários ao Icos – o que foi negado por ambos.

Em setembro de 2019 a Justiça suspendeu licitação para a contratação de serviços de limpeza e zeladoria para a Prefeitura de Lajeado pela Arki. Segundo os vereadores de oposição, a empresa segue contratada com dispensa de licitação. Já Caumo garante que a Arki presta os serviços através de contrato existente desde 2014.

Mais da sessão

O líder de governo, Waldir Gisch, pediu acordo das bancadas para votar três projetos de lei na sessão. A solicitação foi negada pelo MDB. Com isso, as apreciações foram postergadas para a próxima sessão. Ainda no encontro, o suplente Carlos André Musskopf (PT) assumiu a cadeira de Sérgio Rambo, do mesmo partido. Ele permanecerá em duas reuniões. Como na terça-feira seguinte, dia 25, é celebrado o Carnaval, os vereadores de Lajeado voltarão a se reunir em 27 de fevereiro.

Texto: Natalia Ribeiro

jornalismo@independente.com.br