Você está em paz com as suas vontades?

A jornalista, psicóloga e psicanalista clínica Dirce Becker Delwing faz uma análise a partir do livro “Os Segredos da Vida”


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Foto: Divulgação

“Sempre corri de um lado para o outro nas férias, levantando cedo, vendo e fazendo o maior número de coisas possíveis durante o dia, voltando exausto de noite para o hotel. Quando finalmente compreendi que nunca me divertia nas férias, que elas sempre eram estressantes, perguntei a mim mesmo o que eu realmente desejava fazer. A resposta foi que gostaria de dormir até tarde, de visitar com calma alguns locais que me interessassem e de me sentar na varanda para ler um bom livro ou simplesmente não fazer nada. Eu desempenhava o papel da “pessoa que aproveita as férias visitando o máximo de lugares”, mas levei tempo para descobrir que aquele não era eu. Fazia aquilo porque achava que devia, mas fiquei extremamente feliz quando compreendi que eu me divertia muito mais e usufruía mais aquilo que via quando combinava a visita a pontos turísticos em momentos de relaxamento”.

O texto está na página 65 do livro “Os Segredos da Vida”. Nesse trecho, David Kessler, um dos autores, reflete sobre o quanto nos deixamos influenciar pelos outros, por vezes, até desrespeitando a nós mesmos para impressionar. A questão é que muitas e muitas são as ocasiões em que precisamos nos adequar ao contexto porque, naquele momento, parece mais prudente contrariar o nosso gosto.

Coisas simples do cotidiano como aceitar um chimarrão que não apreciamos, ficar num ambiente com som alto mesmo quando o ruído nos deixa desconfortáveis, ou permanecer numa roda de conversa que não é do nosso agrado.

No entanto, há situações em que cabe a pergunta: como eu poderia ser mais autêntico, o que quero e o que não quero fazer? É muito importante ter clareza daquilo que não quero para mim para que eu possa identificar situações que me deixarão desconfortáveis. Nessa hora, posso decidir se fico no ambiente, se continuo no projeto, se faço vistas grossas para aquilo que me incomoda, ou se me afasto por precaução.

Óbvio, inúmeras são as vezes em que, por questões estratégicas, não nos manifestamos diante de um descontentamento, ou mesmo participamos da atividade porque é interessante para nossa carreira, ou para não arranhar o relacionamento com aquela pessoa. Entendo que, só o fato de conseguirmos analisar o nosso lugar nas relações que estabelecemos, já fugimos da paralisia diante das nossas vontades.

Texto por Dirce Becker Delwing, jornalista, psicóloga e psicanalista clínica

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