O ano de 2016 já está marcado na história como aquele em que ocorreu a maior tragédia do futebol mundial. A queda do avião da Lamia na Colômbia, no qual 71 pessoas morreram e seis, incrivelmente, sobreviveram repercutiu no mundo todo. E como tem feito nos grandes acontecimentos o Grupo Independente acompanhou o desdobramento desta tragédia.

Fui designado a ir para Chapecó, onde cheguei no fim da tarde de quarta-feira – um dia após o acidente. Uma vez na cidade do oeste catarinense, fui direto para a Arena Condá, onde encontrei torcedores, familiares, dirigentes e muita gente ligada ao clube desolada.

No portão de acesso, um mural com fotos, cartazes, flores e velas em respeito às vítimas. Quando fui embora, no sábado, quase não havia mais espaço naquele local para as homenagens, que também estavam espalhadas pelo chão. Ainda no portão de acesso, duas barracas estavam montadas, nas quais os torcedores da torcida organizada Jovem passaram às noites até a chegada dos corpos.

O cenário para o culto ecumênico naquela noite estava montado, com um espaço reservado no centro do campo para familiares e amigos das vítimas. Dois pastores e um padre proferiram palavras que buscaram dar um conforto para aqueles que sofriam. Não só dentro do campo, mas também nas arquibancadas, onde 19 mil pessoas, choravam e cantavam.

Há aproximadamente 30 anos frequento estádios de futebol, seja nas arquibancadas, à beira do campo ou nas cabines. Jamais tinha presenciado algo tão emocionante e bonito. Em meio às lágrimas, os torcedores entoavam cânticos da Chapecoense e de “É campeão”, sem que uma partida de futebol estivesse por ser realizada. Pelo contrário, aquele time jamais voltaria a pisar naquele gramado, que estava preparado para um momento fúnebre.

Ao fim da cerimônia e nos dias seguintes, busquei informações à cerca do velório coletivo, que viria a ser realizado no sábado, explicações do acidente e muitos relatos de ex-jogadores, ex-técnicos, dirigentes, torcedores, pessoas que deixaram de viajar na última hora e familiares.

Ah, os familiares…As entrevistas com eles, com certeza, estão entre as mais difíceis que fiz na minha carreira. Meu intuito era “mostrar” ao público o sofrimento deles, contar suas histórias, suas indignações, trazer recordações dos seus entes, porém sem ser muito invasivo. Foi complicado. Falei, por exemplo, com a mãe do goleiro Danilo, a dona Ilaídes, que ficou famosa depois do abraço que deu em um colega de imprensa; o pai do zagueiro Felipe Machado que foi acordado no dia do seu aniversário com a notícia da morte do seu filho; com um radialista que teve a missão de informar seus ouvintes sobre a morte de seu próprio irmão e de outro colega de trabalho. Pessoas que precisaram ser, e ainda precisarão ser muito fortes.

Na sexta-feira foi feita uma homenagem aos jornalistas falecidos em frente ao mural de recados. O momento em que familiares, amigos e colegas se manifestaram foi, para mim um dos mais emocionantes. Talvez por me colocar no lugar deles, ou até no lugar daqueles que estavam no avião, pensando em meus familiares ali lamentando minha ausência. Muitos não conseguiam completar seus depoimentos, de tanto que choravam ou soluçavam. Enquanto gravava suas manifestações, meus olhos se encheram de lágrimas e, mais tarde, foi difícil descrever o que acontecera.

O sábado do velório coletivo foi outro momento de demonstração de muito carinho, inclusive de torcidas de outros times brasileiros, que foram à Arena Condá. Muitos torcedores ficaram mais de oito horas debaixo de chuva nas arquibancadas para prestar suas últimas homenagens. Em vários momentos vi colegas de imprensa à trabalho não aguentar e chorar, pois também haviam perdido pessoas queridas no fatídico voo. A marcha fúnebre, a entrada dos caixões, as manifestações públicas, a salva de tiros, tudo o que vi naquele sábado jamais sairá da minha memória.

Em 2013 estive em Santa Maria para a cobertura da tragédia da Boate Kiss. As duas situações tiveram suas singularidades e foram muito difíceis. Porém, o que tornou a cobertura jornalística em Chapecó mais difícil foi a demasiada espera pela chegada dos corpos, que fez com que o sofrimento dos familiares fosse ainda maior. Só nos resta desejar muita força àqueles familiares que ficaram e àqueles que, com certeza, farão da Chapecoense um clube ainda maior. #ForçaChape

Por Ricardo Sander

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui