Apesar da origem europeia, o Carnaval no Brasil se disseminou pela prática dos negros escravizados

As escolas de samba, as marchinhas de Carnaval, as fantasias e os desfiles apareceram posteriormente, como parte de uma organização que ocorre neste período


0

É Carnaval!

Uma das maiores festas do Brasil, mas ainda precisamos refletir.

Das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, que têm o maior carnaval de desfiles de escola de samba, acompanhado pelo estado de São Paulo. Seis rainhas de bateria são negras, trazendo uma maior representatividade da mulher periférica que normalmente é a que mais apoia, e durante o ano todo, e se movimenta para que a escola exista, perpetue e possa desfilar. Algumas escolas priorizam a saída de mulheres brancas à frente de suas baterias, porque estas normalmente têm maiores incentivadores e mais visibilidade de patrocinadores. Porque apesar da negritude ser um case de marketing nos últimos anos, a real mudança do cenário ainda não aconteceu.

Apesar da origem europeia, o Carnaval no Brasil se disseminou pela prática dos negros escravizados, que foram adaptando a celebração para outros moldes. Fazendo com que se tornasse mais próximo do que temos hoje. As escolas de samba, as marchinhas de Carnaval, as fantasias e os desfiles apareceram posteriormente, como parte de uma organização que ocorre neste período. Contudo o racismo estrutural, responsável por descredibilizar os negros de muitas de suas conquistas, fez com que a maior visibilidade fosse dada às pessoas brancas, porque mesmo a maior parte dos blocos e das escolas de samba, serem oriundas de comunidades periféricas, as poucas pessoas brancas que viviam naquele lugar exerciam maior poder, ficando acima na hierarquia, das escolas. O que também influencia as escolhas das representações das escolas, as rainhas de bateria, costumam normalmente serem mulheres brancas, mesmo que estas não estejam inseridas no contexto carnavalesco, e nem ligadas aos desafios que as escolas enfrentam, para poder desfilar.

Outra crítica que é bastante feita, é as histórias que são contadas nos sambas-enredo, que poucas vezes enfatizam a cultura negra no Brasil, mesmo sendo uma das mais plurais e influentes. Poucas histórias negras são contadas e quando contadas, poucas saem vitoriosas, não pela falta de caracterização, ou relevância, mas porque aos olhos de quem julga, aquela narrativa é desinteressante, porque o branco está acostumado a se enxergar no centro de todas as narrativas, porque foi assim por muitos anos, até que os negros começaram a reivindicar seu merecido lugar de destaque, e essa diversificação e pluralização, é fortemente criticada e desaprovada, por aqueles que não querem abrir mão de seu privilégio, como centro da história e todos os benefícios que esta posição traz.

No entanto, este ano, a escola de samba vai-vai trouxe para a avenida uma homenagem aos 50 anos de rap brasileiro, coroando uma rainha de bateria negra, substituindo o nome de ruas com nomes de coronéis e escravagistas, pelo nome de pessoas negras em seu carro alegórico. Porque negro é a mão de obra do carnaval, assim como da maior parte dos serviços braçais que nos atendem diariamente e já passou da hora do nosso valor ser reconhecido. Já passamos do período da escravidão há mais de cem anos, mas ainda engatinhamos na luta libertária do povo negro. Porque o negro é o que menos recebe, e o que mais trabalha.

E por isso, a importância dessa construção social, de que o negro pode fazer tudo o que desejar, porque para nós negros, isso já é uma realidade, nós temos ganhado consciência de que não somos aquilo que o imaginário do senso comum construiu, mas a sociedade também precisa entender e fazer esta construção. Mas isso, gerará a perda de alguns privilégios, que costumam ser unânimes, porque existem negros tão competentes quanto brancos, para o desenvolvimento da mesma função. Então com a possibilidade de uma nova vida, construída por novas narrativas, que são fundamentais para alimentar principalmente os sonhos dos jovens negros e políticas públicas, que viabilizem o acesso ao ensino, em breve teremos um cenário nacional, realmente plural, onde o negro será protagonista da sua própria história.

Texto por Nadini da Silva, advogada e mestranda em Ambiente e Desenvolvimento

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui