Tem um papo muito difundido por aí, especialmente no universo feminino, de que a gente precisa se vestir bem mesmo pra ficar em casa, caso contrário, não estaríamos nos valorizando ou valorizando as pessoas que vivem conosco, pois nesse caso, ofereceríamos a nossa versão mais desarrumada. Compartilhei a reflexão de um psicanalista sobre o assunto essa semana nas minhas redes sociais e recebi diversas interações. Por mais banal que possa parecer a questão, entendo que ela merece nossa atenção, pois é na simplicidade do cotidiano que se revelam as coisas mais importantes, neste exemplo, uma cobrança que pode ser extremamente cansativa.
Arrumar-se pra ficar em casa pode ser uma vontade própria ou mesmo uma maneira (consciente ou não) de aplacar sentimentos depressivos. E não há problema nisso. A questão que proponho pensar é a importância de sabermos diferenciar o que tem a ver com nosso desejo e o que está servindo apenas para atender ao desejo do outro, que aliás é uma das grandes questões a que se propõe um percurso psicanalítico.
Eu trago o poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, para provocar essa reflexão com você.
“Queriam-me casado, cotidiano, fútil e tributável?
Queriam-me o contrário disso, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, faria a vontade de todo mundo.
Assim, como sou, tenham paciência!”