Cidades do RS estudam mudar bairros de lugar após cheias no Estado

Municípios buscam alternativas e tendência é priorizar áreas mais altas


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Cruzeiro do Sul será um dos municípios visitados (Foto: Marcio Steiner)

Ao menos três cidades que foram severamente atingidas pelas enchentes do Estado planejam mudar parte da área urbana para fora da região sujeita a inundações. São localidades de pequeno porte, situadas em calhas de rios, e que enfrentaram de dois a quatro desastres naturais em menos de um ano. Especialistas afirmam que outras cidades precisam seguir os exemplos de Barra do Rio Azul, Muçum e Cruzeiro do Sul e não reerguer as estruturas destruídas no mesmo lugar. Para eles, com as mudanças climáticas, novas enchentes virão.

Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (10), o governador Eduardo Leite afirmou ter solicitado que o levantamento de impactos da Defesa Civil também inclua a identificação de localidades que possam eventualmente não ter mais população fixa. “Isso está no nosso radar e no nosso plano de ação. (Teremos) Um olhar específico para aquelas cidades que terão a necessidade de um planejamento excepcional de transferência de locais inteiros, o que vai envolver um custo multibilionário para as necessidades de indenizações para as pessoas que vivem nesses lugares e transferência para um novo lugar, que deveria ser também urbanizado. Nós entendemos que é pertinente para algumas cidades, algumas localidades críticas. Aí vamos buscar a condição de fazê-lo”, disse Leite.

Decisão em consenso com as comunidades

Em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, que teve bairros inteiros arrasados pela correnteza do rio, a prefeitura já decidiu que as casas destruídas não serão reconstruídas no mesmo local. “Tivemos uma reunião e foi uma decisão de consenso com as comunidades. Vamos buscar uma área com até 60 hectares (cada hectare equivale a um campo de futebol) em lugar seco para mudar as famílias e o comércio. Vai ter escola, unidade de saúde, toda infraestrutura”, disse o secretário de Obras, Paulo Nascimento.

Desde a enchente de setembro do ano passado, o prefeito de Muçum Mateus Trojan (MDB), já estudava a realocação de famílias e empresas que estavam em áreas inundáveis. Com o terceiro evento em menos de um ano, ele quer acelerar o processo, mas depende de recursos. “Nós já tínhamos uma política de desapropriação de terrenos em locais com infraestrutura para as empresas iniciarem a construção de seus pavilhões fora da área de risco. Cerca de dez empresas estavam em vias de se mudar, mas foram novamente atingidas. Talvez elas agora não tenham capacidade de reerguimento, mas vamos ajudar no possível”, disse.

Temporais vieram com grandes deslizamentos

Parte dos 4,6 mil habitantes que mais uma vez perderam as casas não quer ficar no mesmo local e muitas famílias planejam mudar de cidade, o que também preocupa o prefeito. “Muitas casas já estavam reformadas e 80% das famílias reestabelecidas. Agora, com o novo desastre, o futuro de Muçum é um grande ponto de interrogação”, afirmou.

Para o pesquisador Marcelo Dutra da Silva, professor de Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), os prefeitos estão percebendo que a estratégia de reconstrução das cidades atingidas tem de vir acompanhada de prevenção e adaptação às medida climáticas.

“Tem cidades com áreas residenciais inteiras que se perderam. Se vai ter de reconstruir, têm de ser reconstruídas em lugares mais seguros, afastados dos cursos d’água”, disse.

Para ele, cidades inteiras podem ter de se mudar. “Têm algumas cidades que foram construídas e mantidas dentro de vales de inundação. As cidades do Vale do Taquari, por exemplo, sofreram uma enchente em 2022, duas em 2023 e voltaram a sofrer agora em 2024.

E vão sofrer outras vezes se forem mantidas no mesmo lugar”, disse. As mudanças envolvem remover as estruturas das cidades que estão em áreas de risco e reconstruir em áreas mais seguras. “Precisamos devolver para a natureza os espaços mais sensíveis a alagamentos”, disse. Ele lembra que a partir de 2021 começou a fica claro que o extremo sul brasileiro teria um volume aumentado de chuva, que se intensifica a cada chegada do El Niño.

No Rio Grande do Sul e no Brasil de forma geral há pouca preocupação com o novo período de mudanças climáticas que estamos vivendo. A gente continua construindo nossas cidades em áreas de inundação e isso não deveria continuar. A maior parte das áreas que estão em risco são as que foram ocupadas muito recentemente. E a expansão urbana de 2010 para cá têm-se dado em direção aos rios. Cada vez se artificializa mais os ambientes naturais e a resposta da natureza está cada vez mais forte.”

Fonte: Correio do Povo

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