Evento trágico pode ajudar a aflorar tendências altruístas

Em um de seus mais conhecidos textos, "O mal estar na civilização", de 1930, Freud propõe que nossas tendências egoístas seriam convertidas em altruístas por interferência da cultura


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Foto: Carolina Leipnitz

Nas últimas semanas, nossas redes sociais exibiram um grande número de demonstrações de solidariedade por conta da enchente que desolou nossa região. Nas postagens, sacolas e porta-malas repletos de alimentos, roupas, cobertores, itens de higiene entre outros, além das inúmeras doações em dinheiro. Uma pessoa comentou comigo que não aprovava esse tipo de exposição da solidariedade.

Eu não tenho por hábito mostrar ou comentar minhas ações em prol do outro, mesmo assim, enxerguei essa exposição de maneira positiva, uma espécie de corrente de bons exemplos. Penso que, às vezes, um estímulo desse tipo – ver outras pessoas doando, preparando comida, ajudando na limpeza – pode nos provocar a fazer algo também, despertar nossos aspectos altruístas.

Em um de seus mais conhecidos textos, “O mal estar na civilização”, de 1930, Freud propõe que nossas tendências egoístas seriam convertidas em altruístas por interferência da cultura. Segundo ele, trazemos conosco, ao nascer, uma propensão a transformar instintos egoístas em sociais, bastam pequenos estímulos para que isso aconteça. Outra parte dessa transformação instintual, conforme Freud, deve ser efetivada durante a vida.

O pai da psicanálise diz ainda que os motivos que levam alguém a realizar determinada ação podem ser muito diferentes de sua expressão, ou seja, um ato entendido culturalmente como sendo de bondade pode ou não proceder de motivos nobres. Para a sociedade, em geral, isso não tem importância, pois é o resultado que deixará sua marca.

Que esse evento trágico sirva para aflorar nossas tendências altruístas e que elas possam, quem sabe, permanecer mais vivas entre nós.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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