Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

As coisas mudam sem parar. A terra gira o tempo todo e a mudança é a única certeza


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Professora Ivete Kist realiza comentário no programa Acorda Rio Grande (Foto: Rodrigo Gallas)

Na semana passada, o ex-governador Eduardo Leite se apresentou como pré-candidato ao governo do estado. Muita gente ficou surpresa e até contrariada. Afinal, Eduardo Leite tinha declarado reiteradas vezes que não buscaria a reeleição. Não vejo razão para pensar que Leite não estivesse sendo sincero quando afirmava que ficaria no governo por um só mandato. O seu plano era mesmo deixar o RS e alçar voos mais altos.

Tanto era assim que, na época própria, Eduardo Leite renunciou ao cargo de Governador e colocou seu nome à disposição para concorrer à Presidência da República. Como sabemos, entre marchas e contramarchas, esta possibilidade acabou descartada. Na iminência de ficar fora da atividade política, Leite decidiu voltar a ser candidato ao poder Executivo no RS. Desconsiderou a opção de buscar algum cargo no poder Legislativo, estadual ou federal.

Não quero aqui analisar os movimentos de Eduardo Leite. Não quero julgar suas pretensões políticas. Quero é lançar um olhar sobre o incessante movimento da vida. Falo da vida de todos, não somente daqueles que ocupam cargos de alta visibilidade. “A vida vem em ondas como um mar” – canta Lulu Santos e continua: “Tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo”. É verdade. As coisas mudam sem parar. A terra gira o tempo todo e a mudança é a única certeza. Como bem ensina a sabedoria budista: “nada é permanente, nada está completo”.

Acho que boa parte do desagrado manifestado contra o novo posicionamento do ex-governador Eduardo Leite tem a ver com o desagrado que brota diante da realidade que nós não controlamos, embora quiséssemos tanto. É muito sedutor sentir-se com autoridade para decidir que algo vai ser sempre assim, sempre! Não tem mi-nem-mé, vai ser assim e pronto.
Todos nós gostamos da expressão “falou, tá falado”. Todos nós gostamos de assistir aos noivos garantir diante do celebrante que vão ser fiéis até que a morte os separe. Todos nós gostamos de assinar contratos e acreditar que nada diferente sucederá. Todos nós gostamos de pensar que o posicionamento de hoje dobra o futuro, ou seja, que o futuro caminhará de acordo com a nossa vontade.

A propósito, com razão ou não, um amigo meu costuma dizer: se as pessoas querem cumprir o combinado, assinar um contrato é desnecessário. Se elas não querer cumprir, não há contrato que resolva.

A verdade é que a vida não está nem aí para os nossos desejos ou para os nossos planos. A vida é imprevisível. É como areia movediça. Os antigos gregos diziam que os deuses riem enquanto os humanos projetam o futuro. Queriam dizer com isso, que a incerteza do futuro vence o esforço por submetê-lo. Luiz de Camões definiu esta matéria em um soneto do século XVI, que tem como título: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

Resumo da ópera: se tudo muda incessantemente, é possível rever decisões, alterar rumos já traçados, ou “roer a corda” – como também se diz?
Para responder a esta pergunta utilizo outra pergunta. Esta que Mario Quintana faz num poema:

– “Devo suar no inverno por que suei no verão?”

 

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