No palco e no bastidor, há vantagens e desvantagens

Tiro muitas lições dessa experiência. Entre elas, a de que em qualquer fase da vida, podemos habitar nossos palcos particulares


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Quando a gente vai ficando mais velho, é bem comum começarmos a nos encolher diante de novas possibilidades, engavetar sonhos, movidos pela crença de que está muito tarde para isso, não há mais tempo, não vale a pena. Vejo que esse é um dilema comum em certa fase da vida. A pessoa se aposenta e não sabe o que fazer. Em primeiro lugar, porque entende que precisa ser útil, em geral, aos outros. Eu penso que essa fase de idade mais avançada pode ser justamente a oportunidade de fazer por si mesmo, sem precisar dar tanta explicação e sem necessitar do aplauso pra guiar seus passos. É aquela conhecida ideia de ir se retirando do palco para habitar os bastidores.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga (Foto: Tiago Silva)

Só que nessa história, tem gente que se perde ao entender que não existe vida interessante ali atrás das cortinas. E nesse clima de resignação, pode-se ir deixando passar aquilo que torna a vida interessante. A pessoa vai se encolhendo, fica sentada esperando que algo aconteça, e desiste de fazer algo por si, de ser útil para si mesma. E nesse momento em que desistimos de querer saber, de aprender, talvez já estejamos mortos de alguma forma, e isso não tem idade.

Recentemente, ouvi uma médica geriatra muito experiente no tema do envelhecimento ressaltar a importância de aprender coisas novas quando a idade vai avançando. Ela propõe que não se retome gostos antigos, mas que de fato a pessoa se desafie a aprender algo que não conhece, pode ser um novo idioma, pode ser dançar, cantar, tocar um instrumento, dirigir, fazer tricô, enfim, aquilo que representar um desejo pessoal e um desafio. Ela diz assim: “você não precisa sonhar em ver um violinista tocando a quinta sinfonia de Beethoven, você pode aprender a tocá-la, nem que isso leve muito tempo”.

No início desse ano, eu resolvi começar a fazer aula de canto, algo que aprecio muito e para o qual acredito não ter grande talento. Se eu fosse pensar que já passei dos 40 e que muito provavelmente isso não vai me render algo em termos mais objetivos, pode ser que eu já teria desistido. Mas como minha vida não é uma empresa, eu sigo lá, a cada semana me superando. Tiro muitas lições dessa experiência. Entre elas, a de que em qualquer fase da vida, podemos habitar nossos palcos particulares. Quando desejamos e ousamos dar vazão aos nossos desejos, abrimos espaço para nos surpreender conosco. No palco e no bastidor, há vantagens e desvantagens. Pode ser que o segredo esteja em conseguir circular por esses dois espaços, que também são muito subjetivos.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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