O que é possível fazer com a dor?

Simbolizar o sofrimento pode ser transformador


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Filósofa e escritora Hannah Arendt

Minha filha está com 5 anos e, como é de se esperar para a idade, volta e meia chora por algum motivo que não conseguimos entender de imediato. Muitas vezes, nem ela sabe direito por que está chorando. Teve um dia que isso aconteceu e, dando uma de terapeuta, eu falei a ela: “filha, tenta me dizer o que tu está sentindo, isso pode te ajudar”.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga (Foto: Tiago Silva)

Esse fato me fez lembrar de uma experiência que tive no fim da faculdade de Psicologia. Eu e uma amiga tínhamos um trabalho importante para entregar, e quando combinamos de nos encontrar na biblioteca para fazê-lo já estávamos com o tempo quase esgotado. O que nós não tínhamos como prever é que no dia agendado, ela estaria doente (pegou uma gripe daquelas de derrubar) e eu teria sido demitida do meu emprego alguns dias antes.

Como a data de entrega estava muito próxima e adiar o encontro não era uma possibilidade, pegamos nossos cadernos, nossos livros e nossas dores e fomos. E o que nós também não imaginamos foi que aquele sofrimento compartilhado geraria um trabalho muito criativo, que virou um vídeo e acabou sendo publicado pelo nosso professor, e hoje tem mais de 40 mil visualizações no Youtube.

Não é nenhuma novidade que muitas músicas de sucesso, pinturas famosas, livros admiráveis e outras produções culturais de renome foram gerados em momentos de muito sofrimento. Hannah Arendt, uma filósofa que admiro, dizia que toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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