Em uma conferência ocorrida há quase um século, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, fez uma afirmação que ficou bastante conhecida. Ele disse: “Aqui fica uma grande incógnita que não consegui descobrir, mesmo após 30 anos de estudos sobre a alma feminina: o que quer a mulher?”
Freud foi um precursor ao se interessar pelo mundo feminino, se sensibilizar com o sofrimento das mulheres e se propor a escutá-las. Foi inclusive a partir dessa escuta sensível das ditas histéricas que nasceu a psicanálise.
Passados quase cem anos, acredito que essa questão “o que quer a mulher” continua sem resposta. E não é porque sejamos seres incompreensíveis, mas porque somos muito diferentes umas das outras. E talvez seja essa singularidade, por vezes esquecida ou diminuída, que provoque tanta confusão.
Somos muitas, não queremos as mesmas coisas – ainda que, como coletividade, tenhamos questões almejadas por todas. Muitas vezes, nem nós mesmas sabemos o que queremos, até que paremos para nos escutar.
Cada uma carrega consigo ideias do que é ser mulher, ideias que vêm atreladas a uma série de expectativas sobre o que pode fazer uma mulher, até onde ela pode ir. E então, cada mulher dá vida a certos tipos de mulher. Mas é provável que dentro de cada mulher existam outras mulheres querendo existir, só que por medo, elas acabam escondidas. Será possível dar vida a outras versões?
Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga