Proteção à juventude

Para quais jovens a sociedade volta os olhares piedosos?


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Foto: Freepik

Não existem discussões sobre a necessidade e a responsabilidade da sociedade de proteger crianças, adolescentes e idosos. Mas quando abordamos este assunto é importante reforçar que a preocupação social dificilmente inclui pessoas negras. Porque quando fala-se em legalização do aborto, mulheres brancas, normalmente mais favorecidas financeiramente, já o acessam, realizam o procedimento em outros países ou até em clínicas clandestinas no
Brasil, que a sua condição financeira as possibilita acessar.

Quando fala-se da proteção quanto aos abusos de crianças e jovens, levanta-se a questão da importância de manter a inocência destes indivíduos, porque as crianças brancas,
em sua maioria, quando não estão sob a supervisão dos pais, possuem ao menos um responsável para protegê-los, estando menos vulneráveis a estas violências. Assim como nos casos de discussão sobre a redução da maioridade penal, onde apoia-se que jovens de 16 anos, sejam encarcerados, porque já possuem consciência sobre os seus atos, mas obviamente, porque estes já são os jovens que passaram a primeira infância sem supervisão, já não tiveram condições de acesso a um ensino de qualidade, e normalmente são negros.

Dentro deste cenário deve-se levantar a discussão principal deste tema. Qual juventude a sociedade está preocupada em proteger? Levantam-se discursos que defendem a inocência do jovem, em período de ensino médio (entre 15 e 17 anos) que não podem acessar literaturas brasileiras, extremamente importantes para criação de consciência sobre privilégio da branquitude, sobre negritude, sobre estereótipos raciais, consciência de classe, entre outros aspectos da vida em sociedade, mas que utilizam deliberadamente as redes sociais, sem qualquer supervisão ou filtro, o que é no mínimo contraditório.

Esse aspecto leva a conclusão de que a sociedade quer proteger e dar mais privilégio ao jovem branco, para que siga acreditando que a sociedade deve se desenvolver ao redor e ao gosto dele, e que toda narrativa que não o trouxer como herói, deve ser apagada, ou
destruída.

Outro aspecto que se reforça com este tipo de postura, é de que cada vez mais descredibiliza-se os autores e pesquisadores, e dá-se crédito a influenciadores, que na maioria das vezes não possuem conhecimento técnico sobre os debates que realizam em seus perfis, e acabam gerando uma grande rede de pessoas com conhecimentos rasos e incorretos, sobre pautas extremamente importantes.

Por isso, o centro da discussão, deveria ser como proteger os jovens dos ataques que têm sido cada vez mais frequentes nos meios digitais, e de como educá-los para viver em uma sociedade plural, para que possam entender a importância da inclusão de todos os tipos de pessoas em todos os ambientes. Para que o lugar de privilégio, seja um lugar de consciência e responsabilidade, para com a sociedade, mas também com as escolas, que não educam, ou formam caráter, mas são a forma que as crianças e adolescentes irão aprender a buscar informação e conviver em sociedade.

Por isso, sigamos lutando, para que nossas crianças e adolescentes possam ter acesso a livros, ao conhecimento e a liberdade.

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