“Quando nos culpamos, sentimos que ninguém mais tem o direito de nos culpar”

Jornalista e psicóloga Tamara Bischoff ressalta a importância de lembrar que todos nós temos imperfeições e que aceitá-las é parte fundamental do processo de crescimento e autoaceitação


0
Foto: Ilustrativa/Reprodução/Freepik

Há alguns dias, o micro-ondas da minha irmã estragou. Como ela tem uma bebê em casa, resolvi oferecer o meu micro-ondas por uns dias, para facilitar a função de esquentar leite e esterilizar mamadeira. Nesse meio tempo, recebi três amigas para um encontro na minha casa. Quando a primeira chegou, olhei para aquele buraco no armário da cozinha, o local onde deveria estar o equipamento, e a primeira coisa que se passou pela minha cabeça foi justificar o porquê daquele vazio. Mas acabei não dizendo nada. Chegou a segunda e depois a terceira, e eu não fiz qualquer comentário sobre o buraco na minha cozinha. Consegui suportar a falha diante delas.

Esse fato corriqueiro me fez pensar nas quantas vezes em que nos sentimos cobrados por nossas imperfeições e, na tentativa de resolver o conflito psíquico que isso gera, já largamos na frente nos justificando, como se tivéssemos de sustentar, diante do outro, a ilusória ideia de completude.

Na obra “O retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde tem uma frase que diz: “quando nos culpamos, sentimos que ninguém mais tem o direito de nos culpar”. Talvez esteja aí uma possível explicação. Se eu revelo meus defeitos de antemão para o outro, a tendência é que este outro demonstre compreensão e não me julgue. Ao admitir minhas falhas, me protejo da resposta do outro, ao mesmo tempo que alivio a cobrança imaginária de plenitude.

Bem, se minhas amigas escutarem esse comentário, talvez me digam se perceberam o espaço vazio e o que pensaram dele. Aliás, este pode ser um exercício bem interessante, descobrir o que cada uma projetou ali naquele buraco no armário da minha cozinha.

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui