Raça e etnia: quais os termos corretos a serem usados?

Não somos todos iguais, mas estamos lutando para termos os mesmos direitos


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Foto: Freepik

De acordo com Silva Santos, Palomares, Normando e Quintão (2009), raça e etnia são dois conceitos relativos a âmbitos distintos. Raça refere-se ao âmbito biológico; a seres humanos, é um termo que foi utilizado historicamente para identificar categorias humanas socialmente definidas. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial, ancestralidade e genética. Portanto, a cor da pele, amplamente utilizada como característica racial, constitui apenas uma das características que compõem uma raça.

Entretanto, apesar do uso frequente na Ortodontia, um conceito crescente advoga que a cor da pele não determina a ancestralidade, principalmente nas populações brasileiras, altamente miscigenadas. Etnia refere-se ao âmbito cultural; um grupo étnico é uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas, culturais e semelhanças genéticas. Essas comunidades geralmente reclamam para si uma estrutura social, política e um território.

E o uso destes conceitos de forma incorreta, acabou tornando-se um elemento para disseminação do preconceito e do racismo, enraizado na sociedade brasileira. O principal elemento para discriminação, costuma ser a cor da pele, quando essa se torna a característica principal do indivíduo, retirando inclusive sua humanidade. Porque costuma-se dizer, quando elogia-se alguém “que pessoa bonita”, quando refere-se a alguém branco.

Quando a pessoa vai dirigir o mesmo elogio a uma pessoa negra, sempre surgem expressões como “que preta bonita”. Como se antes de ser gente, a pessoa fosse preta. Ou então, quando vai referir-se ao intelecto daquele indivíduo, ouve-se recorrentemente “ela é uma ótima pesquisadora, muito inteligente”, quando refere-se a mulher branca. A mulher negra costuma ouvir “mas e não é que essa neguinha é inteligente”, como se fosse algo
surpreendente uma mulher negra ser inteligente.

Esta construção foi realizada, juntamente com todo um processo de construção de identidade social, onde o negro e suas características são taxadas como grosseiras, feias e até agressivas. Muito disso pode ser caracterizado quando trata-se de procedimentos estéticos, biologicamente, as mulheres negras em sua maioria, possuem a boca maior, e quase todas já foram alvo de algum tipo de bullying por isso, mas hoje, quase todas as mulheres e homens também se utilizam de procedimentos estéticos para preenchimento labial, para obterem essa mesma característica, que possivelmente já criticaram, em um homem ou uma mulher negra.

Atualmente a descredibilidade do negro é majoritariamente dada pelo preconceito étnico, mas por diversos anos, estudos embasaram o preconceito racial, registrando que as pessoas da raça negra, eram intelectualmente inferiores, o que academicamente, foi derrubado, mas para o conhecimento do senso comum, ainda reproduz-se. Um exemplo deste preconceito, é quando algumas pessoas acreditam que certa função só pode ser exercida por uma pessoa branca, reforçando que pessoas negras apenas servem para servir, e realizar serviços, que a sociedade entende como inferiores.

Ou ainda, quando acreditam que chamar alguém de preto, ou negro é ruim, porque entende que aquela característica desqualifica a pessoa, e por isso, atualmente houvesse discursos como “não sei como chamar aquela pessoa, hoje tudo é racismo”, eu tenho uma sugestão: chame-a pelo nome. E somente chame a pessoa de preta, ou negra, quando antes, tiver se dirigido a uma pessoa branca da mesma forma! Porque mais uma vez, não somos todos iguais, mas estamos lutando para termos os mesmos direitos.

Texto por Nadini da Silva, advogada e mestranda em Ambiente e Desenvolvimento

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