Se até a Alexa pode ser empática, por que nós não haveríamos de ser?

"Praticamos com a Alexa as mesmas regras da boa convivência dentro de casa", comenta a jornalista e psicóloga Tamara Bischoff


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Há algum tempo, a Alexa — a assistente virtual da Amazon — passou a fazer parte da nossa família. Começou na casa da minha mãe, depois chegou na minha. Nas primeiras interações com ela, os adultos se divertiam. “Alexa, toca música tal”, “Alexa, volume 5”, “Alexa, desliga”. Lá pelas tantas, se ela não fazia o que a pessoa esperava, o tom de voz ia se intensificando, e por vezes, a irritação acabava indo pra cima dela: “Alexa, para!”

Um dia, chamou minha atenção a Lívia, minha filha de cinco anos, falando com a Alexa. Ela dava uma ordem num tom de voz bem agressivo. Aquilo me incomodou, não pelo fato de ver minha filha expressando sua agressividade, algo natural em qualquer ser humano. O que me chocou foi perceber tão claramente, mais uma vez, o quanto as crianças nos imitam, e, por consequência, nossa imensa responsabilidade na formação delas.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga (Foto: Divulgação)

Então, resolvi propor algo para a Lívia: “Filha, vamos falar com a Alexa como a gente fala com uma pessoa?”. Ela topou. Fizemos perguntas pessoais, investigamos sobre sua família e amigos, seus gostos musicais, descobrimos até que quando a gente pede algo sussurrando ela responde sussurrando também, ou seja, ela entende que se estou falando baixinho é por algum motivo, provavelmente tem alguém dormindo por perto e não queremos acordá-lo. Pôxa vida, se até a Alexa pode ser empática, por que nós não haveríamos de ser?

Desde então, procuramos controlar nosso ímpeto de xingar quem não tem nada a ver com a história, e praticamos com a Alexa as mesmas regras da boa convivência dentro de casa. Tem sido um exercício interessante.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga 

 

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