Somos flexíveis no discurso, mas rígidos nas ações

A flexibilidade contida no discurso acaba no exato momento em que alguma individualidade se sente em desvantagem


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Foto: Freepik

Proibido errar! Essa frase não está estampada em nenhuma placa por aí, mas nem por isso deixa de ser uma espécie de ordem que circula fortemente entre nós, ainda que muito disfarçada.

Nessa semana, estava dirigindo aqui em Lajeado e parei no sinal vermelho. Meu carro tem aquela tecnologia start/stop, que desliga automaticamente o motor nesse tipo de situação, mas como toda tecnologia, também pode falhar. E falhou, não ligou quando quis dar a partida. Isso, como vocês podem imaginar, se deu em poucos segundos. Mas foi o suficiente para um motorista muito irritado buzinar exageradamente e, não satisfeito, avançar para a pista ao lado e me xingar enquanto acelerava tudo que podia pra mostrar o quanto a minha falha o tinha feito perder tempo.

Freud disse que o primeiro humano que insultou seu inimigo em vez de atirar-lhe uma pedra inaugurou a civilização. Com base nisso, se eu não recebi uma pedrada do motorista nervoso, posso pensar que fiquei no lucro. Mas o que me intrigou nessa situação foi a falta de tolerância mesmo.

Acho que nunca estivemos tão contraditórios no quesito aceitar o erro versus demonizar o erro. Dizemos o tempo todo que cada um pode ser como quiser, que aceitamos as diferenças, que “é assim e tá tudo bem”. Tudo bem nada! Essa flexibilidade contida no discurso acaba no exato momento em que alguma individualidade se sente em desvantagem.

O trânsito sempre foi e continua sendo um ótimo termômetro para avaliar nosso comportamento social. Na próxima vez que sair por aí, como pedestre ou motorista, procure observar mais atentamente quais sentimentos que o uso desse espaço coletivo desperta em você. É um exercício bem interessante.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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