A burca, os padrões de beleza e as diferenças culturais entre mulheres ocidentais e do Oriente Médio

Ivete Kist fala sobre suas impressões durante viagem feita ao Egito


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Ivete Kist (Foto: Maria Eduarda Ferrari)

Como já falei aqui, estou voltando de uma viagem ao Egito e trouxe pano pra muita manga.

Uma das coisas que surpreende no Egito é a presença de tantas mulheres usando a burca – aquela vestimenta preta que cobre o corpo, da cabeça aos pés. Só os olhos ficam livres do pano preto, mas ainda assim, frequentemente, são protegidos por óculos escuros. As mãos desaparecem por conta de luvas. Também pretas, claro.

Junto com outros turistas, eu tomava o café da manhã no hotel em que estava hospedada na cidade do Cairo, que é a capital do Egito, quando minha atenção se voltou para dois casais. Os homens eram jovens e vestiam roupas ocidentais. As mulheres, que pareciam ser as esposas, estavam ocultas por trás das burcas. Fiquei curiosa para ver como elas fariam para comer. Foi aí que percebi que há uma parte móvel no pano preto, colocada exatamente para dar acesso à boca. É uma espécie de cortininha que passa despercebida porque todo o traje é da mesma cor. Elas pegavam uma porção de pão, por exemplo, levantavam rapidamente o pano e nhac, o pão desaparecia. Os homens faziam a refeição com a naturalidade dos ocidentais. Elas comiam meio furtivamente. Erguiam o pano e já baixavam, não deixavam ver a boca.

As mulheres de burca na mesa do café da manhã não pareciam largadas de lado e nem contrariadas. Notava-se que participavam da conversa do grupo, assim como participavam da refeição.

Diante de costume tão diferente, a impressão inicial é de pasmo. Como é que as mulheres se sujeitam a viver atrás de panos pretos? Como elas aceitam essa situação? Como?

Uma vez passada a surpresa, resolvi deixar de fazer julgamento. É arriscado interpretar o funcionamento das relações em outra casa, o que dirá em outra cultura. Sabe lá como as mulheres se sentem de burca? E temos que reconhecer que – ao menos quando vão sair – não precisam quebrar a cabeça pra decidir “com que roupa eu vou”.

Este tema é desconfortável, mas aqui vai o que eu fiquei pensando depois. Será que, de um outro jeito, as mulheres ocidentais também não usam suas “burcas”? O fato de as nossas burcas não serem feitas de panos pretos não seria a diferença principal?

Acho que podemos reconhecer que certos padrões estéticos nos sujeitam. Nós, as ocidentais, nos sentimos, digamos, “incentivadas” a usar sapatos desconfortáveis, roupas escronchas, cores estranhas por uma questão de moda, antes do que por escolha. Para entrar na onda, aceitamos até colocar nossa saúde em risco. Nós nos sentimos “incentivadas” a gastar tempo e um dinheiro – que às vezes nem temos – para nos ajustar aos modelos de beleza vigentes. É meio que obrigatório parecermos lindas, magras e jovens. É ou não é?

E fica no ar a mesma pergunta feita antes em relação às egípcias: Por que aceitamos esta situação?

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