A gordofobia no ambiente de trabalho: preconceitos podem servir como defesa 

A atitude preconceituosa revela uma extrema insegurança


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Foto: Freepik

Você já ouviu falar na expressão gordofobia? Ela diz respeito a uma espécie de aversão a corpos gordos, e no ambiente de trabalho ela já vem sendo discutida há muito tempo. Pesquisas de 20 anos atrás mostravam que a maior parte de diretores e presidentes de empresas manifestava alguma restrição para contratar pessoas obesas. Nesse sentido, pouco se avançou.

O mapeamento da gordofobia no Brasil feito em 2022 indicou que 50% dos obesos sofrem com a falta de mobiliários e uniformes adequados no ambiente de trabalho. Esse tipo de preconceito dificulta que pessoas com obesidade ingressem no mercado ou avancem em suas carreiras.

A jornalista Eliane Brum tem um texto publicado no livro “A menina quebrada” no qual fala sobre um episódio em que presenciou pessoas rindo de um velhinho que caminhava com muita dificuldade por um shopping. Vestindo uma peruca, com parte da fralda geriátrica à mostra, ele lutava para estar ali, e era motivo de chacota.

A cena a fez refletir sobre o que poderia explicar esse tipo de reação. Uma das hipóteses levantadas pela jornalista é de que aquelas pessoas precisavam rir, cutucar e apontar para ter a certeza – momentânea e ilusória – de que ele não era elas, e nunca seria. “Só apontamos para o outro, para o diferente, para aquele que não somos nós”, escreveu ela.

Penso que a atitude preconceituosa revela uma extrema insegurança. Ela pode surgir então como defesa, uma tentativa de se afastar da condição que assusta, e que vem colada a uma ideia de perda de controle. Todos nós ficaremos velhos se não morrermos antes. Todos podemos adoecer, nos acidentar, perder o cabelo, usar fralda. Todos podemos nos descontrolar na nossa relação com a comida. E tudo isso é muito assustador.

Para concluir, utilizo-me das palavras de Eliane: “acho que o mundo seria melhor – e a vida doeria um pouco menos – se cada um se esforçasse para vestir a pele do outro antes de rir, apontar e cutucar o colega para que não perca a chance de desprezar um outro, em geral mais vulnerável”.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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